30 abril 2012

Ausência de Deus


"Cerca das três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabactháni?, isto é: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?" Mateus 27,46


Se até Ele por momentos sentiu a ausência de Deus, como é que nós, mortais e pecadores, não o sentiríamos? São inúmeras as vezes que isso nos ocorre.


27 abril 2012

Hoje retive este pensamento





"Saulo ergueu-se do chão, mas, embora tivesse os olhos abertos, não via nada. Foi necessário levá-lo pela mão e, assim, entrou em Damasco, onde passou três dias sem ver, sem comer nem beber. " - (Livro dos atos dos Apóstolos 9, 8-9)

Do evangelho de hoje retive esta passagem. Porquê? Porque ao lê-lo, veio-me à ideia que, todos nós somos um pouco como Saulo, ainda que de olhos abertos, nada vemos, ainda que de olhos abertos, não vemos o essencial, e se queremo-nos converter a Cristo, temos que deixar que Ele nos leve pela mão, temos que deixar que ele nos faça entrar em Damasco. Três dias foi o tempo que Cristo levou deste a sua morte até há sua ressurreição. Nós também precisamos de morrer para esta vida material em que estamos afogamos e ressuscitar para a vida eterna. Talvez "três dias" seja o tempo necessário para, no fim dizermos:
"Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim!" (Gl.2, 20)

26 abril 2012

«QUEM É O MAIOR NO REINO DO CÉU?»

Já comecei a ler o livro citado aqui do amigo Joaquim. Das orações que já li, por agora retenho esta:

Logo se levantam uns quantos,
dizendo em alta voz:
Serei eu,
sem dúvida,
que não falto a uma celebração,
que estou sempre de mãos postas
a pedir graças do Céu.
Mas logo chegam uns tantos,
que dizem por sua vez:
Serei eu,
sem dúvida,
que estou sempre em oração,
mãos abertas a pedir,
as graças para o coração.
Outros se chegam à frente,
e dizem em voz tremente:
Serei eu,
sem dúvida,
que procuro os que precisam,
e todos os dias lhes dou,
um pouco daquilo que tenho,
e assim terei recompensa.
Ainda outros se impõem,
dizendo por sua vez:
Serei eu,
sem dúvida,
que a cada hora e momento,
bato com a mão no peito,
pedindo perdão a Deus,
por aqueles que O não seguem.

Lá no fundo,
no meio da multidão,
prostrado na sua vergonha,
joelhos e cara no chão,
há um que reza baixinho:
Tem compaixão,
Senhor,
que eu nada sou,
nem quero ser,
mas apenas reconhecer,
que sou fraco e pecador.
Tem compaixão,
Senhor!
Aquele que tudo sabe,
Aquele que tudo pode,
Aquele que tudo vê,
tomou este nos seus braços,
e disse à multidão:
Fazei-vos crianças puras,
limpos para a Verdade.
Não vos glorieis de nada,
pois nada podereis sozinhos.
Sede pequenos,
pequeninos,
do tamanho da humildade.
E quando assim fordes,
como Eu fui,
estando entre vós,
o maior do Reino do Céu,
não será um,
mas todos vós!

*Mt 18, 1

Marinha Grande, 24 de Outubro de 2011
Joaquim Mexia Alves

Inúmeras vezes sinto-me mais os primeiros que o último. Poderão dizer que somos todos nós é certo mas, como eu gostaria de ser mais vezes o último do que os primeiros. Deus nos abençoe a todos.

23 abril 2012

Família - pedra basilar da sociedade

A instituição Família dos dias de hoje, ao contrário da de outros tempos, não muito distantes diga-se a abono da verdade, é permanentemente bombardeada pelos meios de comunicação (especialmente) para a sua destruição, melhor dizendo para a sua extinção, sem exagerar muito no termo usado.
Este assunto ocorreu-me após ter percebido numa conversa informal que duas pessoas estavam a ter ao pé de mim, em que uma delas dizia que se tinha mudado para outra casa porque estava em processo de divórcio com o marido. Até aqui nada de novo, se não fosse o facto de ter dado conta, atendendo ao meu angulo de visão, que apesar disso, a pessoa em questão ainda devia gostar muito do marido, se tal não fosse, já não estaria a usar a aliança de casamento e fazer questão de, delicadamente dançar com a mão enquanto falava, como que a mostrar aquilo que me apercebi. A sua boca dizia uma coisa, mas o seu coração, quase de certeza sentia outra. As suas palavras pesadas estavam carregadas de amargura, mas ao mesmo tempo eram um grito de desespero e um pedido de ajuda.
Não tendo a certeza das razões que a levaram a sair de casa e estar a tratar da separação com o marido, alguma coisa ocorreu. Alguma coisa foi feita, para que chegasse a este ponto. Costumo dizer que numa situação semelhante, a responsabilidade não é só de um, mas não devo ser só eu a ter esta opinião, no entanto, o facto de ainda usar a aliança e fazer questão de a mostrar, no meu modesto entender, demonstra que, para além de ainda ama-lo certamente, está ainda disposta a perdoa-lo.
 Longe vão os tempos em que os anúncios dos jornais, na televisão e mesmo na publicidade nos locais habituais, eram isentos de promiscuidade e segundas intenções. Hoje, já com técnicos habilitados em Técnicas de Marketing, raro é o anúncio, o programa televisivo ou a publicidade em que os valores morais com que muitos de nós crescemos são postos em causa. Para além desses valores com que fomos criados, o verdadeiro amor não só é banalizado e reduzido ao mero ato sexo e ao prazer, como também à perversão, à devassidão e outras palavras semelhantes, sendo que na maioria dos casos são levados ao extremo/ridículo. E por falar em ridículo, lembrei-me agora de um anúncio relativamente recente, onde é anunciado um spray poderoso e desengordurante, o qual termina com um beijo exageradamente lascivo.
Assim, sendo os meios de comunicação, um meio por excelência de veicular o que vai acontecendo pelo pais e pelo mundo, é natural que tudo aquilo que dá audiências seja usado e abusado em prol de um maior share na respetiva medição de audiência. Lamentavelmente, tudo aquilo que não transmite valores, é que dá mais audiência. Lamentavelmente, tudo é permitido, tudo é possível e tudo é relativo. Lamentavelmente, a instituição Família cada vez é mais “apenas uma coisa ou um mero número” e não aquilo que realmente é…Pessoas de carne e osso, com sentimentos, afetos e valores.
Longe vão os tempos em que, sendo quase tudo possível, os valores morais na sociedade eram inabaláveis e tidos como pedra basilar nas famílias. Longe vão os tempos em que o amor era isso mesmo, AMOR. O namoro, ainda que fosse, em alguns casos de vários anos, o futuro casal conhecia-se bem, antes mesmo de trocarem as alianças no dia de casamento. Não quero dizer com isto que tudo fosse perfeito, tudo fosse um mar de rosas, como se diz na gíria mas, ainda que as situações de divórcio não ocorressem com tanta frequência, talvez em parte, por razões financeiras mas, hoje em dia, qualquer situação ainda que medíocre ou de resolução fácil é O motivo para divórcio, aliás, e infelizmente no meu entender, já muitos namorados casam-se mas, já com a premissa de, “se não der certo, separamo-nos”, quando, antes do casamento propriamente dito, deviam conhecer-se melhor. Na verdade, hoje, os namorados conhecem-se muito bem, em termos corporais especialmente mas, no essencial para que o relacionamento dê certo e se prolongue no tempo, quase nada se conhecem. Se perguntarmos a muitos deles, quais os gostos, os desejos ou os sonhos do outro, a maioria ficará a pensar prolongadamente ou mesmo sem resposta.
 Tenho esperança que a conversa informal relatada no 2º parágrafo ainda tenha retrocesso, ainda haja a possibilidade de ser resolvida a bem, na qual ambas as partes se entendam e sintam que o amor que têm um pelo outro é maior do que A causa desta separação…provisoria, desejo.
Tantos casos como este são o pão nosso de cada dia infelizmente, e ninguém está livre de uma situação semelhante, mesmo aqueles que se acham imunes. Tantas famílias destruídas com o patrocínio dos meios de comunicação e demasiadas famílias acabadas por “dá cá aquela palha”.
No que toca à minha, peço a Deus diariamente que continue a ajudar, como tem feito sempre.


11 abril 2012

Carta a Simão de Cirene

Texto retirado na integra daqui


"DOMINGO DE RAMOS - Ano B


“Requisitaram, para lhe levar a cruz,
um homem que passava, vindo do campo,
Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo.”

Mc 15, 21


Caríssimo Simão.
Desculpa-me o afecto desta saudação mas sabes, certamente, que és um dos personagens mais lembrados do evangelho. Sem dizeres nenhuma palavra, aquele pequeno versículo que os evangelistas nos deixaram (só João não te refere), com o teu nome e o dos teus filhos, revelando-te como quem ajudou Jesus a levar a cruz, gravou-te no nosso coração. Mas quem és tu? Um desconhecido forçado a entrar no maior drama da história. Um nome e um gesto lembrado para sempre. Proveniente da longínqua Líbia (hoje um país crucificado por um regime despótico e a procurar uma liberdade que vença os conflitos), estarias radicado por Jerusalém ou vinhas para a Páscoa? Sabermos o teu nome e o dos teus filhos leva-nos a pensar que tu ou eles pertenceram às primeiras comunidades cristãs.
O que pensaste ao ser obrigado a levar o instrumento de morte de um condenado? Que viste naquele flagelado que a multidão injuriava? Sempre as multidões foram manipuláveis. Dias antes, essa ou outra multidão tinha-O aclamado Messias Rei ao entrar em Jerusalém. Onde estavam os amigos que O acompanhavam desde a Galileia? Um deles, também chamado Simão, tinha dito que daria a vida por Ele. Mas isto não sabias ainda. Agora ia ali, talvez à tua frente, como se levasse o peso do mundo nos seus ombros, alguém que não conhecias. Terá o seu olhar cruzado com o teu? Quero acreditar que sim. E que tenhas percebido aquele amor que muda as nossas vidas, que enche de paz quando as injustiças e o inexplicável acontecem, que nos empurra a dar até ao fim o melhor que está dentro de nós. Ficaste até ao fim? Ouviste aqueles que O incitavam a descer da cruz e a salvar-se a si mesmo? Ficamos sem saber mas o teu papel já estava realizado.
Levares a cruz de Jesus tornou-te padroeiro de todos os que levam cruzes que não são suas. Que são de alguém que amam ou de desconhecidos. Porque se compadecem ou porque são requisitados. E há um mistério de amor a ligar todos estes Cireneus voluntários ou não, que aliviam o peso e dão vida a quem a não tinha. Tão ao contrário dos que se especializam em atar “fardos pesados e difíceis de suportar” e os põem aos ombros dos homens, ou “fazem todas as obras para serem vistos pelos homens” como dizia Jesus (Mt 23, 4-5). Que nomes novos tem a cruz hoje? Desemprego, pobreza, violência, exploração dos fracos, dependência dos poderosos? E que poderes a originam? Injustiça, corrupção, desonestidade, enriquecimento ilícito, abuso de poder? Ah, Simão, a cruz que levaste aos ombros já era feita de tudo isto! Mas a abundância do amor venceu o desamor. A manhã de Páscoa tornou-se mais forte que as trevas do calvário. Na cruz de Jesus todas as cruzes conduzem à Vida!
Obrigado por nos ensinares que, mesmo sem querermos, podemos dar vida a quem a amamos e a quem desconhecemos. Obrigado por teres caminhado com Jesus como gostaríamos de acompanhar quem sofre. Um abraço forte, e até já, nestes caminhos de Jesus!

P. Vítor Gonçalves"