“Eu
vou pensando e até dizendo: Seria bom irmão passar aqui...15 dias,
um mês, acredite que tenho saudades do silêncio e da contemplação.
(...)Sim era bonito entrar 15 dias, uma semana, um mês...sei lá, um
ano...e entrar a vida inteira?”
Palavras
sabias proferidas pelo Cónego António Rego numa reportagem do
programa 70 x 7, da década de oitenta sobre o único mosteiro da
Ordem Cartuxa (Scala Coeli) existente em Portugal e que, tal como a
Sagrada Escritura, se mantêm permanentemente inalteráveis.
Leio,
relei-o e medito um pouco sobre estas poucas palavras. Tal como eles
(de poucas palavras), são de uma profundidade imensa e seguramente
dariam para uma tese de Doutoramento, para quem as souber trabalhar
nesse sentido.
Tal
como muitos de nós, Cristãos convictos e professos, muitas vezes
sentimos que nos falta algo
mais
do
que aquilo
que a Igreja nos dá. Sentimos um desejo enorme de Amar
permanentemente Deus, de O adorar a todas as horas do dia, mesmo
durante o sono repousante e necessário. Sentimos uma necessidade
quase
extrema de O contemplar em silêncio e oração, mas seriamos
realmente
capazes de deixar
tudo para trás
e segui-lO como eles O seguem?
Muitos
de nós já lemos e meditamos sobre imensas obras que falam deles e
até mesmo aqueles
livros quase proféticos
que são escritos na 1ª pessoa, e nestes últimos, ficamos
maravilhados, não só com as palavras impregnadas no papel, como
também com aquelas que intrinsecamente não foram escritas, no
entanto, seriamos capazes de passar das palavras lidas aos atos
vividos? Talvez
o irmão não nos respondesse, mas perceberíamos, os seus olhos já
nos tinham respondido.
Como
irmão romeiro de um rancho de romeiros aqui na Ilha Terceira, pela
Quaresma, saímos para a rua durante 5 dias, nos quais apenas
oramos e contempla-mo-lO. Sabe-nos muito bem e quando terminam esses
dias, ficam as saudades do silêncio e da contemplação daqueles
dias mas...e
a vida inteira?
Julgo
que falo por todos aqueles que são amigos
dos Cartuxos,
quando digo “era
bonito entrar 15 dias, uma semana, um mês...sei lá, um ano...e
entrar a vida inteira?” “
Um
breve pensamento que me ocorreu, após ruminar algum tempo nas
palavras com que iniciei este “desabafo”.