28 março 2020

Urbi et Orbi Extraordinária


Estamos perante uma imagem poderosíssima. Uma imagem que recordará sempre esta 6ª feira em que o Santo Padre, para além de uma homilia muito profunda, com a humildade que ele nos tem acostumado e a adoração do Santíssimo, proferiu a bênção Urbi et Orbi Extraordinária, para toda a humanidade, crentes e não crentes.

Esta imagem fez-me pensar um pouco, para não dizer muito, sobre o meu papel na sociedade, nos movimentos onde estou integrado, no local de trabalho e no seio da minha família.

Sim, o ser cristão, não é somente estar e ser onde estão e são, mas principalmente, onde não estão e não são. De que serve orar pelos que gostamos? Disse certa vez Jesus aos seus apóstolos. Orar assim era e é como os pagãos! Orar pelos que nos têm ofendido, por aqueles de que menos gostamos, isso sim é Amor. É difícil? É! Mas quantas mais vezes o fizermos, melhor o mundo estará, afinal de contas, a oração, seja de que forma for, sentida e meditada no âmago do coração, tem um poder enorme, que nem imaginamos, só Ele sabe.

Esta imagem, por coincidência, levou-me ao tempo litúrgico que há-de vir. Levou-me a outra 6ª feira, há 6ª feira Santa, na qual, depois de muitas multidões o seguirem nos dias anteriores, também Jesus ficou sozinho, tal como o Santo Padre. Bem sei que não foi pelo mesmo motivo e forma, mas ele ali chegou sozinho acompanhado por poucos, como O foi Jesus Cristo. Ele ali chegou carregando nos ombros o peso da Sua e nossa Cruz. Apesar de abatido, combalido e com uma tristeza enorme na sua alma, tenho a certeza que as nossas orações naquele momento particular e especial foram o seu Cireneu. Sozinho, mas com cada um de nós, que fazemos parte do Corpo Místico de Cristo, ele e Ele não estavam sós.
Por muito levianamente que possamos pensar, nestes dias o Maligno (sim ele existe verdadeiramente, por muito que alguns digam que não) tem-nos tentado, como tentou Jesus Cristo naqueles quarenta dias no deserto. Nós também, nesta Quaresma e por força deste vírus, também caminhamos no deserto. Também não sabemos para onde vamos, mas sabemos que é neste deserto silencioso e forçado que Ele nos falará, se O soubermos escutar.

Nestes dias o Maligno, ao ver os locais de culto despidos de crentes e ontem a praça maior deserta de pessoas, seguramente riu-se imenso, um rir maquiavélico, pensando que está no controle da situação e que sairá triunfador no fim. Esse ser maligno, esquece-se que os locais de culto e a praça maior, são apenas e somente locais simbólicos para os crentes. Locais é certo, que nos elevam para Ele, mas o mais importante são as almas fervorosas em oração, seja onde for que se encontrem. Também os primeiros cristãos se encontravam em catacumbas e não foi por isso que deixaram de acreditar n`Ele. Aliás, as catacumbas eram locais onde se colocavam os corpos dos mortos, mas nesses locais de encontro, partilha da palavra e oração entre os primeiros cristãos, Ele estava vivo, talvez mais vivo, atrevo-me a dizer, do que muitos de nós em enormes Basílicas. Talvez depois deste sábado do grande silêncio, todos nós crentes, deixemos de ser apenas cristãos mornos, mas sim de coração abrasado. Se assim for e acontecer, a cabeça da serpente será esmagada e despertaremos para o domingo da Ressurreição.

Esta imagem, no silêncio avassalador, está carregada de imensas palavras de perdão, agradecimento, esperança e louvor.

Nesta imagem o apascentador das Suas ovelhas, não estava só. Tinha todo o seu rebanho com ele, até a ovelha perdida ali se encontrava, juntamente com as outras noventa e nove.