Faz hoje 19 anos que me
despedi da minha mãe de coração. Naquele momento algumas lagrimas teimavam
em querer sair dos olhos, quais quedas de água, mas alguém se antecipou a mim.
Naquele momento, de certa forma criei a barragem do Cabril e apenas saiu um
pequeno fio de água, qual nascente do rio Zêzere. Foi um momento duro, mas ao
mesmo tempo reconfortante, sabendo que minutos antes de receber a chamada da
tua partida para o Pai, tinha tomado a decisão de ir visitar-te naquela semana.
Quero crer que estavas à espera dessas minhas palavras, para te separares desse
corpo que aqui te prendia, mesmo que não tivesses noção do teu estado.
Na altura achei
prematura a tua partida, mas algum tempo depois, consegui admitir que foi
melhor assim. Estavas sem saber que estavas. Ninguém quer que os nossos entes
queridos partam, mas é a lei da vida. Como muitas pessoas dizem, temos que
fazer o luto, contudo, é algo que até agora não fomos ensinados, Ainda não
fomos ensinados para aceitar a única certeza que temos nesta passagem, e como
tal, é emocionalmente duro ver alguém que gostamos, partir.
Não fiquei órfão, uma
vez que a minha mãe de sangue ainda é viva, graças a Deus, no entanto, devido a
vários fatores da vida, alheios à nossa vontade, tu é que estiveste sempre
presente, quando a minha presença, algumas vezes, era ausência para alguns.
Mesmo residindo a meio
do Atlântico, tiveste a coragem de me vires visitar em alturas marcantes da
minha vida familiar e até conseguiste que o avô emprestado (como lhe chamo)
viesse também.
Várias vezes na semana
ligava-te, não só para ouvir a tua voz, mas também para conversar, desabafar,
pedir uma opinião e tu também fazias o mesmo.
Creio que estejas perto
de Deus e mesmo que ainda estejas à distância de mais algumas orações, sabes
que contas comigo, mesmo que essas orações sejam apenas conversas com Deus.
Parece que foi há pouco
tempo. Alguns dias, semanas, meses, mas faz 19 anos.
10 de dezembro
de 2020