Quando nascemos a única
certeza que temos é que não sabemos a hora ou o dia em que Ele nos irá chamar e
ainda bem. No entanto e infelizmente, no mundo ocidental em que vivemos, ainda
não fomos ensinados para essa certeza. Ainda é muito doloroso vivermos a
partida de alguém que se ama, seja nova ou menos nova, mas se for nova ou forem
os nossos filhos…
Filhos que se despedem
da partida dos seus pais, ficam órfãos, mas e ao contrário? Ao contrário não há
nome criado porque não é natural apesar de acontecer. Não é natural os pais
enterrarem os filhos…
Nem sequer imagino a
dor de um casal que depois de ver nascer o fruto do seu amor, pouco mais de 10
anos, vê-lo partir bruscamente sem nada puder fazer. Ver partir de um segundo
para o outro alguém que vendia saúde até aquele momento. Alguém
que com tão tenra idade ainda era uma criança inocente, ainda era um anjo de Deus
no seio daquela família.
Não compreendemos os desígnios
de Deus e numa situação assim, por vezes viramo-nos contra Ele e perguntamos-Lhe:
- Porquê ele e não eu?
E Ele nada nos diz ou
aparentemente não O ouvimos.
Olha para os rostos dos
familiares mais próximos e apesar de apáticos, sente-se uma dor atroz
nos seus corações. Os olhos, espelhos da alma, estão completamente apagados,
sem brilho algum, quase que embaciados, apesar das lágrimas já derramadas.
Durante a celebração,
fiquei no lugar habitual. Lugar de onde vejo a Capela do Santíssimo Sacramento
de um lado e do outro a imagem de Sua e nossa Mãe Maria Santíssima. Hoje e
neste mesmo lugar, vejo a brancura do caixão e um pouco da cabeça daquele Anjo
de Deus. Qual mãe que teve no seu ventre durante 9 meses e mais de 10 anos a
cuidar dele, vejo-a de vez em quando a afagar os seus cabelos docemente e
ternamente e outras vezes um carinho na face, qual Maria a fazer o mesmo
ao Seu menino Jesus. O pai, qual José, apenas olhava e de quando em vez
abraçava-a para a aconchegar do frio interior. A igreja, para a altura
que estamos a atravessar, estava cheia de pessoas sentidas por esta partida
antecipada. Quais pastores, olhavam para esta família, não pelo nascimento do
menino Jesus, mas sim pela partida de um anjo d`Ele. Ao contrário de algumas
cerimónias idênticas, esta primou por algum silêncio, talvez introspectivo, porque
muitos de nós sendo pais naquele momento estaríamos a pensar “- E se fosse o
meu?”
No cemitério o pai
chorava timidamente e a mãe, que no momento que me cheguei mais perto dela
derramava uma lágrima cheia de brilho e vida (qual estrela de Belém), queria
ali ficar para sempre. A avó sabia que o seu neto estava junto a São
Francisco e os seus irmãos animais. Já o avô aparentava estar conformado com
esta partida e esperançoso com o regresso da neta
Não compreendemos os desígnios
de Deus e numa situação assim, por vezes viramo-nos contra Ele e perguntamos-Lhe:
- Porquê ele e não eu?
E Ele nada nos diz ou
aparentemente não O ouvimos.
Volto atrás algumas
semanas e recordo-me do que me foi dito dois dias antes do fatídico acidente. O
anjo de Deus, durante o baptizado da irmã naquele domingo, cumpriu todo o ritual
tal e qual o padrinho da menina. Há quem diga que foi o destino a chamar, no
entanto, quero acreditar ter sido apenas Deus a mostrar que o Seu anjo
iria ser a Luz da sua irmã lá ao pé de Si. Que a sua missão aqui iria terminar
brevemente e ao pé de Si era o lugar dele. Quero crer que ao pé do Pai, ele irá
interceder pela sua irmã, para que ela recupere sem sequelas e possa iluminar a
vida dos seus pais, avós e família mais chegada, já que cá em baixo,
essas pessoas estão a passar uma escuridão imensa. Uma escuridão que abafa os
corações, enegrece os olhos e tenta fechar os olhos da alma em relação ao
Criador.
Sexta-feira, dia 19 de
junho de 2020. Dia do Sagrado Coração de Jesus. Coincidências ou Deuscidências
mas, a imagem venerada neste dia, já há alguns anos a esta parte que os
arranjos florais na Sua capela são executados por esta família agora enlutada.
“Perdeu a vida, mas deu
Vida em abundância” é o que me acorre dizer para terminar
este desabafo, no qual afinal de contas, nada disse.
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