OS DOIS MAIS ANTIGOS ESCRITOS DO ROSÁRIO
Aí por 1398, Adolfo de Esser entrou para a Cartuxa de Saint-Alban de Tréveris. Pouco tempo depois, redigiu, com a licença do seu Prior, o P. Bernard (†1430 em Colônia), dois opúsculos em língua alemã dirigidos à Duquesa de Lorraine, Margarida de Baviera. Remeteu-lhos aí por 1400, provavelmente no seu castelo de Sierck, a montante de La Moselle em relação a Tréveris.
O primeiro escrito era uma «Vida de Jesus», que até hoje não foi identificado. O segundo, intitulado «Pequeno Jardim de rosas de Nossa Senhora», foi descoberto em dois exemplares. As duas obras completam-se e deviam introduzir a duquesa numa nova maneira de meditar:
Durante a recitação das 50 Ave, aquele que medita faz mentalmente desfilar diante de si o nascimento e a vida de Jesus. Ele toma a sério o amor ao mesmo tempo universal e muito pessoal de Deus. Por esta benevolência agradece-lhe com alegria; está persuadido de encontrar em cada particularidade da vida de Jesus uma resposta aos seus próprios problemas.
Alguns 20 anos mais tarde, nas introduções de que Adolfo fez preceder os textos do Rosário, é precisado que esta oração vocal das 50 Ave não obtinha a sua verdadeira beleza - aquela que agrada a Nosso Senhor e sua Mãe - que graças à meditação da vida de Jesus. É recomendado que ao longo desta meditação sejam evitados cuidadosamente toda a fantasia e embelezamento arbitrário, que afastam do Evangelho. Adolfo insiste muito para que aquele que reza o terço se esforce por transformar a sua vida em consequência.
Em conclusão: o Rosário na origem não era um piedoso exercício ao lado de outros exercícios. Era uma conduta global - fundada sobre a Bíblia e a Teologia - em vista da reforma da sua vida individual e da vida eclesial no estado presente.
A duquesa Margarida de Baviera (1376-1434)
A 6 de Fevereiro de 1393, a filha de Roberto do Palatinat - que devia tornar-se Rei da Alemanha (1400-1410) - desposou Carlos lI, duque de Lorraine (1364-1431).
O duque era grande capitão, homem político de primeiro plano, mas débil sobre o plano moral. Quando o seu sogro se tomou Rei da Alemanha, ele bateu-se por ele. Mas voltou-se cada vez mais pata o oeste a partir de 1412, se bem que o Parlamento francês lhe concedeu em 1418 o título de «Connétable», isto é, nomeou-o general-chefe das forças armadas. É verdade que ele exerceu esta função durante apenas um ano.
Apesar do amor sincero e da consideração que ele sentia pela sua esposa Margarida, não chegou a permanecer-lhe fiel, tanto mais que ela não lhe deu - após vários partos prematuros - senão duas filhas. Com a idade, ligava-se sempre mais à sua amante, Alizon du May, uma antiga regateira de Narcy. Ela deu-lhe vários filhos e filhas, que ele dotou num primeiro testamento em 1408, depois num segundo em 1424.
Margarida viveu o seu casamento no meio dum mundo caótico. Porque a política entrava na Igreja, tinha-se chegado à eleição de dois Papas. O sínodo de Pisa em 1409 agravou a situação votando um terceiro Papa. A Inglaterra estava em guerra - uma guerra que devia durar cem anos (1339-1453) - com a França, cujo Rei Carlos VI (1380-1422) se afundava cada vez mais na loucura.
A situação não era melhor na Alemanha onde o Rei Venceslau levava uma vida vistosa em Praga e descurava o governo do seu país. Exagerou ao ponto de os príncipes-eleitores o demitirem das suas funções - aliás em vão - e elegeram para o seu lugar o pai de Margarida como rei. A certa altura três candidatos disputaram a coroa imperial. Ao mesmo tempo este Ocidente tão dilacerado estava ameaçado na sua própria existência. Os Soldados do Crescente, fortemente instalados na Península Ibérica e ameaçando todas as costas do Mediterrâneo, deslocaram-se desde os Balcãs sobre a Hungria.
Tudo isso pesava fortemente na consciência de Margarida, que para mais tinha uma saúde frágil e devia tomar sozinha e sem as trair as decisões no lugar do Duque Carlos, quando este estava ausente durante as suas numerosas campanhas.
É para una mulher numa tão trágica situação que os dois escritos do Rosário foram compostos. Eles levaram a duquesa a procurar em Jesus Cristo - pela oração - o equilíbrio interior.
E de fato, Margarida encontrou esse equilíbrio. Carlos II estimava Adolfo. E conseguiu que a sua Ordem o designasse como primeiro superior da sua nova cartuxa, perto de Sierck (1415-1421).
O Duque tinha verificado que a sua esposa começava desde 1400 a adquirir «uma tal prática espontânea, viva e perseverante do Rosário, que ela parecia como q e transformada, e em posse sempre mais perfeita das virtudes da «Vida de Jesus».
O que ela experimentava como uma ajuda eficaz, esta mulher assim dotada comunicava-o aos nobres da sua corte e ao pessoal ao seu serviço. Mas antes de mais, desta oração ela fez uma prática pessoal, ovação que viveu intensamente na sua própria vida, de maneira que à sua morte, em 1434, a sua santidade foi reconhecida por todos.
O seu processo de canonização não chegou a bom termo. Mas ela é a avó de Bernardo de Baden (1429-1458) e a bisavó da Beata Margarida de Lorraine (†1521).
Ela é a primeira a propagar o Rosário. Provavelmente devemos à sua influência a maneira original de o rezar nos países latinos.
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