16 dezembro 2010

O ROSARIO - 6

O «BILHETE-SOCORRO» DE DOMINGOS DE PRÚSSIA



Na Primavera de 1409, os Cartuxos de Tréveris elegeram como prior Adolfo de Esser, embora fosse o mais jovem entre eles. No mesmo ano, nos fins do Outono, um estudante pediu para ser admitido no convento. Fisicamente e psiquicamente ele estava sem forças, embora a morte lhe parecesse próxima. O Prior, a quem ele agradava apesar de tudo, enviou Domingos (1384-1460) a um piedoso Padre Carmelita, seu amigo, o bispo auxiliar de Tréveris, Comado de Altendorf (†1416). Este, depois de o ter ouvido em confissão - uma confissão geral de toda a sua vida - recomendou o vagabundo ao Prior: o que levou o Padre Adolfo a intervir em seu favor junto da comunidade. Foi assim que Domingos entrou no noviciado.
Anos antes, os seus condiscípulos de Cracóvia tinham formulado sobre Domingos um juízo muito apropriado: se as mulheres e a paixão do jogo não o destroem, ele dará um excelente clérigo - bem entendido na medida em que isso é possível na nossa universidade. De fato, por toda a parte onde a juventude se reúne, ele - o filho de um pescador - tornou-se depressa o «mestre de prazer».
Ele ocupou vários cargos bem retribuídos, como preceptor, notário e mestre de escola. Mas após um certo tempo, desaparecia de novo, para fugir às suas dívidas de jogo. Entretanto fez um pedido para entrar nos cartuxos de Praga. Foi recusado por causa da sua inconstância... Ora agora, dois anos depois, na altura em que ele está muito fatigado, muito deprimido, encontra-se com o Prior para o aceitar; um Prior que lhe assegura que comprometia a sua alma para o salvar, com duas condições: se ele aguenta e se ele aceita fazer o que a Ordem lhe imporá. Adolfo confiou o noviço aos cuidados do P. Pedro Eselweg.
É nesta situação, que acabamos de descrever, que o P. Adolfo pôs o seu aluno ao corrente da sua nova maneira de rezar, que ele chamava «Rosário»; isso soou como um cântico de amor. Inesquecíveis permaneceram estas palavras que ele acrescentou em seguida: «Não é possível que exista um homem tão corrompido que não consiga uma séria emenda da sua conduta, se recita esse Rosário durante um ano!»
A partir desse momento, Domingos entregou-se de todo o coração a essa oração, mas sem sucesso. Em vão recomeçou. Não conseguia concentrar-se; de tal modo estava enfraquecido.
Então teve uma idéia - era durante o advento de 1409 - a idéia de resumir numa folha «a vida de Jesus» em 50 pequenas frases, que serviriam cada uma, por seu turno, para a meditação durante a recitação das 50 Ave. Graças a «esta invenção» conseguiu enfim meditar.
Na sua alegria, revelou imediatamente aos seus companheiros, os outros noviços, «a astúcia», que lhe abriu os caminhos da oração. E bem depressa o Prior aprendeu-o também ele. Domingos admirou-se que o P. Adolfo pudesse considerar com tanta seriedade «esta futilidade».
Este último, com efeito, tinha compreendido imediatamente que ajuda preciosa o método podia trazer às pessoas incapazes de rezar à maneira atual da duquesa e da sua. E para que a vantagem não se perdesse, pediu uma cópia do bilhete. Quando mais tarde, Domingos não cedia, então muito simplesmente Adolfo obrigou-o a transcrever outros bilhetes.

Divulgado por mais de mil exemplares através do mundo

Nunca Domingos duvidou que 50 anos mais tarde, ao recordar, escreveria semelhante verificação. Para já estava contente por ter descoberto uma maneira de rezar o Rosário. Mas o seu caráter instável incitou-o depressa a tomar a procurar outras formas de oração, que poderiam por acaso - como ele pensava - ser mais dignas da «Rainha dos Céus». Ainda noviço, Domingos pôs-se a compor como jogo de criança, com e sob forma de orações, uma espécie de «cerimonial de corte» para corte principesca, em honra da Mãe de Deus. Algum tempo depois, pôs-se com ela a querer «educar e cuidar do Menino Jesus». Enfim, compôs - em paralelo com o «demasiado humilde Rosário» - uma oração que, sem comentário, se tornou inacessível aos seus amigos, que não conheciam a sua mania dos anos vagabundos: a Alquimia. A redação desse comentário tomou-lhe sete anos (1432-1439). Tornou-se a sua obra mestra e estranha: «A coroa de pedras preciosas para a Virgem Maria».
Tudo isso revela que Domingos não teve, sem dúvida nunca, uma visão de conjunto do Rosário. Começou somente a duvidar de qualquer coisa, quando, após a morte de Adolfo, vítima da peste, selecionou os seus papéis. Antes estava admirado, até mesmo irritado algumas vezes, quando Adolfo e um número crescente de confrades e de estrangeiros o solicitavam para outras cópias. Ele passou anos de solidão e de fraqueza. Quando verdadeiramente não é capaz de satisfazer os pedidos, os seus confrades ajudaram-no. Embora cada exemplar fosse submetido a uma censura rigorosa, antes de deixar a cartuxa, o texto, já em vida de Domingos, sofreu variantes.

Mas de que provinha este pedido?

 O Rosário no contexto da reforma religiosa do século XV

O Concílio de Constança (1414-1418), com a eleição de Martinho V (1417-1431), restabeleceu a unidade da Igreja e favoreceu a reforma beneditina. Na mesma época por três vezes, Adolfo de Esser era eleito abade de importantes abadias. Mas ele recusou sempre, apesar da intervenção insistente do Arcebispo de Tréveris, Otto de Ziegenhair (14181430). Mas quando o seu irmão em religião, João Rode foi designado para o cargo de abade de S. Matias em Tréveris (1421-1439) e este lhe pediu para o acompanhar nas suas viagens e para o apoiar discretamente nas suas reformas, então Adolfo aceitou. É a esta atividade oculta que é preciso atribuir o fato que no princípio - além dos Cartuxos - foram os Beneditinos os mais importantes propagandistas e intérpretes das 50 pequenas frases do Rosário de Domingos de Prússia.
Numerosos códices, por exemplo, os da Abadia de Tegernsee, mostram como esta maneira bíblica de rezar foi usada para renovação espiritual. De lá, ela estendeu-se a outras abadias da Alemanha do Sul.
Até então o Rosário era uma oração altamente pessoal e individual.
Alguns 25 anos após a morte de Adolfo, começou-se a recitá-Io em comunidade, no Norte da França, sem se duvidar que a oração de massas possa sujeitar-se a outras leis psicológicas diferentes das da oração individual. A massa nivela e aplana. Isto devia verificar-se, agora que o Rosário de Domingos é retomado pela Confraria do Rosário.
Eis como isso se passou: logicamente, em três etapas.

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