31 agosto 2009

Desabafos I

Por vezes

Por vezes ponho-me a pensar se estarei no caminho certo.
Por vezes penso se o passo seguinte será o correcto.
Ponho-me a pensar se o caminho para Deus é aquele onde ando, com todas as suas imperfeições, frustrações e tentações.
Ponho-me a pensar se nós estaremos correctos e somos cristãos de corpo e alma, ou só de corpo.
Por vezes sinto que a nossa igreja vive um catolicismo morno, onde o verdadeiro fogo da paixão só aqui ou ali, só a este(a) ou aquele(a), ferve até ás entranhas da alma. Já a maioria de nós, onde infelizmente me incluo na maioria do tempo, vivemos num eterno marasmo. Muitas vezes vivemos como a cruz onde Cristo foi pregado e crucificado, impávidos e serenos. Mas Cristo foi tudo menos isso. Cristo palmilhou terra atrás de terra a ensinar. Cristo carregou consigo terra e pó de muitos e dispersos lugares, e nós?
A grande maioria de nós, vai à missa ao Domingo, dias santos, casamentos, baptizados, funerais e pouco mais, para além de que, vão porque fica bem, não por outra coisa mais profunda.
Nesta sequência lembro-me de ter lido algures que Eugenio Scalfari (escritor entre outras actividades) disse ao cardeal Carlo Martini que não acreditava em Deus e disse-o "com plena tranquilidade de espírito", ao qual o cardeal lhe respondeu: "Eu sei, mas não estou preocupado por causa de si. Por vezes, os não crentes estão mais próximos de nós do que muitos devotos fingidos".
No fundo sei que o ser apenas homem de carne e osso é isso mesmo. Ter de vez enquanto dúvidas, incertezas e outras teias de aranha na cabeça. Por isso, muitos de nós não passam da porta de entrada do Cristianismo, no entanto humildemente penso que, mais vale um pouco de Luz do que a Escuridão total.
Por vezes, nesta minha procura/descoberta de Cristo, vejo-me como os habitantes das cavernas na alegoria de Platão, vejo apenas sombras criadas pela luz, não a própria luz, mas como Deus é amor, sei que um dia verei a própria Luz.
Por vezes, não sei se estarei certo, mas nessas muitas vezes do “por vezes”, muitas vezes sinto sem ver que Ele está presente.

23 de Julho de 2009

28 agosto 2009

O leve toque de Deus

Søren Kierkegaard escreveu sobre o leve toque de Deus: “A omnipotência que pode colocar a mão fortemente sobre o mundo pode também tornar o seu toque tão leve que a criatura recebe independência”. Às vezes, concordo, desejaria que Deus usasse um toque mais pesado. A minha fé sofre com liberdade em demasia, com demasiadas tentações para descrer. Às vezes desejo que Deus me esmague, para vencer as minhas dúvidas com a certeza, para me dar provas finais de sua existência e do seu interesse.