16 outubro 2014

Ser monge Cartuxo

 “Eu vou pensando e até dizendo: Seria bom irmão passar aqui...15 dias, um mês, acredite que tenho saudades do silêncio e da contemplação. (...)Sim era bonito entrar 15 dias, uma semana, um mês...sei lá, um ano...e entrar a vida inteira?”

Palavras sabias proferidas pelo Cónego António Rego numa reportagem do programa 70 x 7, da década de oitenta sobre o único mosteiro da Ordem Cartuxa (Scala Coeli) existente em Portugal e que, tal como a Sagrada Escritura, se mantêm permanentemente inalteráveis.
Leio, relei-o e medito um pouco sobre estas poucas palavras. Tal como eles (de poucas palavras), são de uma profundidade imensa e seguramente dariam para uma tese de Doutoramento, para quem as souber trabalhar nesse sentido.

Tal como muitos de nós, Cristãos convictos e professos, muitas vezes sentimos que nos falta algo mais do que aquilo que a Igreja nos dá. Sentimos um desejo enorme de Amar permanentemente Deus, de O adorar a todas as horas do dia, mesmo durante o sono repousante e necessário. Sentimos uma necessidade quase extrema de O contemplar em silêncio e oração, mas seriamos realmente capazes de deixar tudo para trás e segui-lO como eles O seguem?

Muitos de nós já lemos e meditamos sobre imensas obras que falam deles e até mesmo aqueles livros quase proféticos que são escritos na 1ª pessoa, e nestes últimos, ficamos maravilhados, não só com as palavras impregnadas no papel, como também com aquelas que intrinsecamente não foram escritas, no entanto, seriamos capazes de passar das palavras lidas aos atos vividos? Talvez o irmão não nos respondesse, mas perceberíamos, os seus olhos já nos tinham respondido.

Como irmão romeiro de um rancho de romeiros aqui na Ilha Terceira, pela Quaresma, saímos para a rua durante 5 dias, nos quais apenas oramos e contempla-mo-lO. Sabe-nos muito bem e quando terminam esses dias, ficam as saudades do silêncio e da contemplação daqueles dias mas...e a vida inteira?

Julgo que falo por todos aqueles que são amigos dos Cartuxos, quando digo “era bonito entrar 15 dias, uma semana, um mês...sei lá, um ano...e entrar a vida inteira?” “

Um breve pensamento que me ocorreu, após ruminar algum tempo nas palavras com que iniciei este “desabafo”.