26 fevereiro 2013

O Monge que queria ver Nossa Senhora

Um dia, prostrado diante da imagem abençoada de Nossa Senhora, um jovem clérigo disse a Maria, que tudo o que ele desejava na vida era vê-la, não mais como uma estátua imperfeita de pedra ou de madeira, mas como ela era na realidade:

– Meu filho, respondeu-lhe a imagem, eu não anuncio a ninguém a hora da sua morte, pois seus dias não me pertencem: eles pertencem a Meu Filho. Mas se você insiste tanto em me ver, saiba que ninguém no mundo obteve este favor, sem que logo depois tenha perdido a vida.

– Ah! Gritou o clérigo no auge da felicidade, em troca de tal presente, quem não consentiria em perder a luz de seus olhos!
Mas, como alguém que crê estar perdido nas profundezas do firmamento ainda está preso às coisas da terra por um vínculo, por mais frágil e fino que seja, enquanto proferia estas palavras com entusiasmo, nosso clérigo, que não estava tão desapegado do mundo como pensava, com uma das mãos cobriu um dos olhos, e com o olho que ficara aberto, observou. O que ele viu, então, não existem palavras para contar. A Rainha da Glória apareceu para ele, em seu manto de belas noites, semeado de planetas e estrelas, no meio da sua Corte Celeste e de seus Anjos músicos. Mas a visão durou apenas o tempo de um relâmpago, deixando o jovem monge deslumbrado e mais infeliz do que antes, pois, pelo fato de ter visto Nossa Senhora uma vez, mais sequioso em revê-la ficou.

Felizmente, ele pôde contar com o olho que fora preservado, sob a sua mão:

– Rainha da Beleza, gritou o monge, que eu perca meu segundo olho, mas que eu a veja pela segunda vez!

– Olha para mim agora, novamente, se a minha presença lhe é tão deleitável, respondeu a imagem.

E o que ele viu, com o olho saudável, foi uma pobre mulher, exatamente como a que vemos pelas estradas, e que tinha no rosto tanta dor e tanta tristeza que as palavras não conseguem definir. Em seguida, a visão desapareceu mais uma vez, deixando o clérigo completamente cego, mergulhado nas trevas mais profundas.

– Rainha da Misericórdia, disse ele então, perdoe-me por lhe ter enganado, tapando um dos meus olhos, mas assim pude vê-la, mais bela ainda, se isto é possível, tanto na sua humildade quanto no seu esplendor!
A imagem, então, respondeu:

– Seja perdoado, bom e doce amigo, pelo seu ardil inocente. E por me ter tanto amado, retome o que eu lhe tinha tomado.


Jérôme e Jean Tharaud

Contos da Virgem

Plon, 1940.

(retirado de um minuto com Maria de hoje)