25 fevereiro 2011

Cartuxos (um oásis no meio do deserto) II

É um filme sem actores, falas, luzes, efeitos especiais ou banda sonora, no entanto, com tudo para ser um dos melhores que vi até hoje. Refiro-me ao filme que dá pelo nome de “O Grande Silêncio”, da autoria do alemão Philip Groning sobre o quotidiano dos monges de um mosteiro Cartusiano, mais precisamente da casa-mãe, a Grande Chartreuse, nos Alpes franceses, fundada por São Bruno de Colónia (103-1101), em 1084 (séc. XI). Apesar do seu nome “sugestivo” é um filme com quase 3 horas, mas com um silêncio que nos fala ao coração. São quase 3 horas absorventes e emocionantes onde, sem nos apercebermos, mergulhamos num mundo tão misterioso e frequentemente tão silencioso como o lado não visível da Lua. Contudo, para entrarmos neste filme devemos agir como quem se recolhe em oração. As imagens, essas conduzem-nos a uma misteriosa mas profícua peregrinação interior.

Tal como o tempo de Deus é diferente do nosso, também a autorização para a realização deste filme demorou cerca de 17 anos a ser concedida, pelo prior-geral da Ordem, aliás, estes monges também não vivem de acordo com o nosso senso de tempo. Atrevo-me a dizer que a paciência de Groning em relação a este projecto teve algo de divino, como se o tempo certo para o realizar tenha sido “aquele” e não “antes”.

“Susto. Surpresa. Choque.” Foi assim que o Pe. Antão López, da Cartuxa de Évora, começou por falar deste filme, adiantando que “o filme retrata com fidelidade a existência cartusiana, na sua liberdade de mil coisas supérfluas, para vivermos o essencial que é Deus.”

Trata-se de um filme sobre a presença do absoluto e a vida de homens que dedicam a sua existência a Deus.

O silêncio, ali, não é um silêncio absoluto. A bem da verdade, o filme está cheio de sons. O som de uma gaveta que é aberta, uma tesoura que rasga um tecido de pano, um sino que toca, das orações, do vento, da lenha a crepitar ou dos risos em momentos de brincadeira. Então, se não há silêncio, por que se chama “O Grande Silêncio”? Penso que será porque há uma absoluta surdez relativamente a tudo o que são os “nossos” sons ou melhor dizendo, os “nossos” ruídos.

Termino com uma passagem, das poucas onde “O Grande Silêncio” é interrompido por algumas palavras (por sinal de uma profundidade inalcançável) e que ficaram-me gravadas com uma dos maiores louvores que se podem fazer a Deus Nosso Senhor, um amor incondicional ao Pai. Refiro-me a uma passagem, na qual um monge mais idoso quebra o silêncio para Lhe agradecer por tê-lo tornado cego. Depois termina dizendo: “ Tenho a certeza que Deus o fez para o bem da minha alma”.

Este filme ganhou os Prémios de Melhor Documentário no Festival de Sundance e nos Prémios Europeus do Cinema.
(publicado no Jornal "A União" de 26/02/2011)

23 fevereiro 2011

Transferências de Amor

"A Cartuxa é um modo de o ser, Ser.



O Ser é silêncio em movimento,
Movimento de Amor.


Seu Iniciante está: deslumbrado,
Pela Paixão
De um Primeiro Olhar.


Não sabe ainda, (mas o irá saber),
do aprofundamento deste Amor,
Que ela própria, a Cartuxa, guarda, no íntimo de seu
Silêncio Recôndito,
Um Beijo Obscuro,
com Sabor de Abismo.


Isto vai re-velando-se (no tempo certo!),
ao Apaixonado,
Após deixar-se desve-lar.
E neste exato momento de Alma,
vai-se desconstruíndo,
“Um saber montado sobre o espiritual”, pretenso conquistado,
que o Apaixonado, em seus devaneios,
que a solidão propicia,
havía, no orgulho, da primeira conquista,
ter adquirido.


Esquece-se o Apaixonado, a dedicação
ao serviço do Cuidado do Mistério,
preso foi à soberba e à sensualidade espirituais.


Sente, então, o Apaixonado,
A aridez em seu peito,
e o real peso na sua Alma, do Mistério.
Quer fugir:
- Não é nada disto que imaginei ?


Que peso tem tudo Isso ?
Da “justa medida” do Peso da Leveza.
Sentimento este próximo
de estar à beira de um Abismo,
sentindo o corpo fixar-se à terra, na sua borda,
e a Alma, joga-se numa empreitada...
para que venha a sentir este peso, justo
da sua leveza.


O olhar do corpo,
ainda preso está.


Neste instante,
Sente-se Ausentado,
Para que o Iniciante Apaixonado,
Seja Encaminhado ao
ao Dignissímo Merecedor e Retribuidor deste Amor,
O Cristo, Amado.


Ele,
Deixa-Ser o Único Necessário."

Dr. Alessandro Zardo
alessandrozardo@terra.com.br



22 fevereiro 2011

Pensamento para hoje

Ocorreu-me ontem...

"Deus, na sua infinita misericórdia, deixa que as crianças puras de coração vejam com a alma, “aquilo” que nós adultos pecadores não sentimos com os olhos."

21 fevereiro 2011

"O QUE APRENDI NA GRANDE CARTUXA"

Artigo publicado na revista "Selecções do Reader's Digest", Abril de 1953, n.º 135 – Edição brasileira, da autoria de A. J. Cronin.


"Ao brilho intenso do sol dos Alpes da Sabóia francesa, depois de uma subida extenuante, normalizei a respiração e puxei a corda da campainha. Aberto o postigo da pesada porta, após um momento de exame, um irmão leigo de capuz pardo introduziu-me, silenciosamente, num pátio murado, onde, entre canteiros de flores a zumbir de abelhas, uma fonte cantava. Adiante, de cada lado da vetusta igreja, corriam dois compridos claustros arqueados, dos quais saíam fileiras de curiosas moradas de íngremes telhados vermelhos. Percebi logo que se tratava dos eremitérios individuais onde habitam, na solidão e no silêncio, os monges da Ordem.

Sabendo que quase nenhum estranho tinha entrado naquele remoto santuário, experimentei profunda palpitação de expectativa. Depois de uma velocíssima viagem de 6.500 quilómetros, e sentindo ainda nos ouvidos o burburinho de Nova York, eu me encontrava no pátio do famoso mosteiro da Grande Cartuxa.

Mas eis que se aproxima de mim, com passos rápidos e com um sorriso tímido mas amistoso, um vulto franzino de hábito branco. Era o Prior, homem dos seus 50 anos, de face corada e de olhos de um azul muito escuro. Deu-me as boas-vindas com simplicidade e dignidade, e ouviu, cortesmente, a explicação dos motivos da minha visita. Depois levou-me a um eremitério desocupado e disse que o Padre Arquivista iria acompanhar-me numa visita geral. E retirou-se.

O eremitério era de pedra e tinha no andar térreo uma pequena oficina com ferramentas, um banco de carpinteiro e um depósito de madeira; no andar superior ficavam o oratório singelo e o quarto de dormir. Nesta, o que vi foi uma mesa simples de carvalho, um pequeno aquecedor de ferro, uma estante de livros, um modesto genuflexório e a cama com um tosco colchão de palha.

Um sino tocou suavemente, ecoando entre os cumes banhados de sol. Lá no alto, o céu era de um azul ofuscante. Tomado pelo sentimento da solidão que me cercava, sentei-me. Era ali, naquela prisão voluntária, que um homem tinha decidido passar toda a sua vida. Era ali, que ele trabalhava e orava, cultivava o seu pequeno jardim e se entregava àquela intensa contemplação que é o fim e o propósito do monge cartuxo.

Nessa altura ouvi uma leve pancada na porta. Era Dom Arthaud, o padre Arquivista, homem idoso mas de porte viril, rosto largo e simpático, olhos castanhos inteligentes piscando brejeiramente atrás dos óculos, para surpresa minha.

- Às suas ordens, senhor. Que deseja saber? – perguntou-me ele depois de me cumprimentar.

- Tudo. Diga-me antes de mais nada: guarda-se aqui silêncio absoluto?

- Exactamente. Excepto, é claro – acrescentou, fazendo uma delicada vénia – quando recebemos a honra de receber alguém como o senhor.

- Quando começa o dia para os monges?

- Às 5 e 45 levantamo-nos com o sino e nos ocupamos com orações até às 7 e 15.

- E em seguida fazem a primeira refeição?

- Não. A nossa primeira e única refeição completa é feita ao meio-dia.

- Somente ao meio-dia?! – Exclamei. – Em que consiste?

- Em geral, consta de verduras da nossa horta.

- Comem carne de vez em quando?

- Nunca. (O meu espanto pareceu diverti-lo.) E uma vez por semana, bem como em muitos dias especial, o nosso único sustento é pão seco e água.

Os meus olhos viraram-se para a dura cama de madeira.

- Deitam-se cedo? – perguntei.

- Sim. Às seis e meia da tarde.

- Pelo menos têm um bom descanso à noite.

- Só até às 10 horas – disse o monge com um sorriso suave. – Então o sino toca, nós nos erguemos para o Ofício nocturno, e depois, acendendo nossas lanternas, vamos para as devoções em comum na igreja.

- Mas então quando é que se deitam?

- Cerca das 3 da manhã.

- E tornam-se a levantar às 5 e 45!

- Exactamente… E garanto-lhe que é descanso mais do que suficiente. – O monge apertou-me o braço, como que para abafar em mim qualquer expressão de dó.

- Venha comigo. Vamos dar uma volta pelo mosteiro.

Enquanto me conduzia pela belíssima igreja, com magníficos assentos e coro lavrados, o Padre Arquivista informou-me a fundação se devia a S. Bruno, com mais seis companheiros em 1084. Mas o que me interessava mais era o lado humano do que o histórico. Enquanto caminhávamos por um corredor de lajes, húmido mesmo naquele dia de Verão com o calafrio da antiguidade, perguntei:

- Vocês não sentem frio aqui no Inverno?

- Oh não. – Ele bateu familiarmente a pedra nua como quem tocasse o ombro de um velho amigo. – As paredes são espessas. E nós temos os nossos pequenos aquecedores.

- Mas parece que não aquecem grande coisa…

- Talvez não. – O piscar dos seus olhos acentuou-se. – Mas rachar lenha nos aquece.

Pensei nos longos meses de neve, nas procissões nocturnas através da escuridão gelada, no serviço religioso à meia-noite naquela igreja imponente e tenebrosa, e não pude reprimir um arrepio. Ao dobrar uma esquina, vimos um jovem leigo empurrando um carrinho cheio de fatias de pão, parando para deixar uma fatia na janelinha de cada eremitério.

Dom Arthaud explicou que aquele brave garçon voltara à pouco do serviço militar, tendo-se distinguido na campanha da Indochina.

- Cada qual toma a sua refeição sozinho?

- Sim… sempre na solidão.

- E é essa a sua ração de hoje?

O Padre Arquivista fez que sim com a cabeça. Com adorável simplicidade, dobrou o possante bíceps e disse:

- O pão é bom. Eu deixo um pedaço de pão sobre o meu banco de carpinteiro quando trabalho… como e trabalho… como e trabalho… trabalho e como… Ninguém pensa em comida quando está deveras ocupado.

- Ocupado?

- Fique certo, meu amigo, que o tempo não dá para o que desejamos fazer. Os bancos esculpidos à mão que o senhor tanto admirou na igreja são todos trabalho dos nossos monges. O mesmo se dá com estes painéis – e mostrou uns lindos trabalhos de linho lavrado ao longo do vestíbulo interno. – Também os móveis do nosso mosteiro, os armários do vestiário e inúmeras outras coisas… Como vê, até no sentido mais material não somos totalmente ociosos.

Prosseguimos a visita pelo claustro. O Padre Arquivista indicou um ermitério próximo e explicou:

- Ali mora um americano… Temos aqui dois americanos. E um padre mexicano. Outro da Áustria. Até um do Japão temos aqui.

- Então vêm gente de toda a parte?

- Sim, meu amigo. Mas temos todos um destino comum.

Com um gesto expressivo ele conduziu-me por uma arcada gótica a um pátio relvado coberto de flores e de flores silvestres. Ali, em filas bem ordenadas, via-se uma série de singelas cruzes de madeira preta, sem nomes, nem inscrição.

Fiquei calado por algum tempo.

- São muitas juntas umas das outras… aquelas cruzes – disse eu por fim.

- Nós não ocupamos muito espaço. Isto porque não precisamos de caixões. Como em vida, basta-nos uma tábua para deitar-nos em cima.

De volta ao eremitério e novamente só, tratei de por em ordem as minhas ideias. O modo de vida naquela prisão voluntária era muito mais severo do que eu havia imaginado. E no entanto, em vez de tristeza peculiar à penitência, em vez da melancolia do ascetismo que eu esperava, o que parecia impregnado na própria substância daquelas antigas pedras cinzentas era uma alegria despreocupada.

O sino soou mais uma vez. O sol escondera-se atrás dos pícaros da montanha. E com a passagem silenciosa das horas naquela estranha existência, que vista de fora, parecia falsa e contrária ao bom senso, assumiu um tranquilo ar de sanidade, enquanto o mundo hostil e absurdo lá de baixo se apresentava perdido no caos e na confusão.

Lá em todos os continentes, os homens disputavam desvairadamente o lucro, e em momentos de lazer só se preocupavam com divertimentos que lhes deleitassem os sentidos. A televisão lampejava, o rádio papagueava, os aviões roncavam fendendo as nuvens com maior rapidez que o som, grandes navios atravessavam velozes os sete mares transportando cargas humanas para aqui e para ali, em busca de riqueza ou de prazer. Ao mesmo tempo, porém, a atormentada e perplexa, vítima de um profundo desassossego, a Humanidade não conhecia a verdadeira felicidade. Em cada terra, ganhando malignidade cada dia, acumulavam-se os apetrechos feitos pelo Homem para a destruição de seu semelhante.

A ciência era agora a senhora, a pobre Humanidade a escrava, e o Homem, esquecido da simplicidade dos seus antepassados, atolado num imenso lamaçal de interesses individuais e de ideais falsos, extenuava-se e suava para fazer girar o moinho sem fim da sua própria desagregação. Essa, debaixo do seu verniz de civilização, era a triste epopeia da Terra, um mundo de trágicos desatinos girando pelo espaço, tendo apenas alguns poucos a erguerem o espírito, o coração e a voz para o Criador.

Não seriam, pois, mais sábios aqueles que tinham resolvido passar os seus dias neste retiro monástico, longe do barulho e da fúria mundana, perto da abóbada celeste, de maneira a poderem fixar permanentemente a vista nas verdades eternas e oferecer talvez, por suas humildes preces, uma reparação pela culpa dos outros?

Poucos, sem dúvida, são capazes de tal retraimento. A convicção deste facto enraizou-se em mim à medida que os dias passavam e eu conheci privações insólitas, o tormento das noites sem dormir e da alimentação espartana, a angústia da solidão nova.

Mas da experiência foi nascendo pouco a pouco uma verdade fulgurante. No supremo isolamento da Grande Cartuxa, inatingível embora para a maioria de nós, encontra-se uma salutar advertência – a necessidade imprescindível que todo o homem tem de se separar dos outros de quando em quando e fazer uma peregrinação interior ao seu próprio coração. Colhidos no vórtice da vida moderna, enredados nas suas complicações, adquirimos o medo de ficar sozinhos e preferimos procurar qualquer distracção do que permanecer na sempre difícil companhia dos nossos próprios pensamentos.

A minha estada ali tinha, forçosamente de chegar a um termo. Quando me despedi dos bons monges e desci à planície lá baixo, senti uma estranha tristeza no coração. Mas, percebi, claramente, que a minha subida ao convento não tinha sido em vão e aprendi a lição da Grande Cartuxa. A sua mensagem era, manifestamente esta: que de vez em quando devemos tomar um pouco de tempo às múltiplas preocupações do nosso trabalho e das nossas distracções para reajustar o nosso senso de valores, para relegar ao seu lugar próprio os nossos desejos materiais. Banindo da nossa boca a inevitável desculpa: Eu bem desejava, mas não disponho de tempo", devemos arranjar um tempo – cinco, dez, vinte minutos ao fim do dia, uma hora em cada tarde de domingo consagrado a um passeio de meditação, um fim-de-semana, de tempos a tempos, inteiramente dedicado a recolhimento. Então veremos como são de pouca importância as coisas que perseguimos com tanto afã; então, talvez, pudéssemos descobrir não só a consciência de nós mesmos, mas o que é muito mais importante – a existência da nossaprópria consciência."

Ontem como Hoje, esta Vocação, tem muito a dar ao Mundo.

18 fevereiro 2011

Saudade

(Imagem retirada da net)

Acabei de ler o fabuloso texto do irmão em Cristo Victor Henriques que dá pelo título “A minha visita à Cartuxa”. Admito que beirou uma lágrima no canto do olho ao sentir o Amor que é demonstrado nas suas palavras.
São 6 páginas de uma enorme Paixão pelos Cartuxos…como eu também os admiro…
Quando os “conheci” e não me lembro como os conheci, nem como quando me apaixonei por esta vocação, sentia…”inveja”. Não no sentido pejorativo da palavra, mas sim, por Deus não mos ter apresentado antes…mas Ele lá sabe o que faz.
Ultimamente e, cada vez que leio algo sobre eles, escrito não por críticos mas por pessoas apaixonadas por Cristo e por este pedaço de Paraíso na Terra, começo a sentir saudade…
Não me perguntem o porquê desta saudade. Não é saudade por achar o “que quer que seja”, mas sim algo mais do que isso. Talvez seja (penso eu) saudade de Deus, saudade de onde parti, não sei. Sei e sinto apenas isso, nas palavras sentidas que vou lendo sobre esta vocação especial. Aliás, sem querer ser mais do que aquilo que sou, sinto um calor no meu coração e uma leveza enorme na minha alma, cada vez que os leio aqui, ali ou acolá.
Mas saudade, ainda que não saiba como nem porquê, é isso que sinto…uma enorme Saudade deste pedaço de Paraíso e da maneira destes Anjos de Deus viverem por nós, no silêncio e na oração constante. “Que trabalho mais escravizante”, poderão dizer algumas pessoas, no entanto, esta saudade leva-me ao ponto de dizer na minha alma: “ Como eu também gostava de ter a graça de ser “escravo” de Deus assim.”

Tenho fé e esperança em Deus, que um dia Ele me agraciará com a possibilidade de os conhecer e, nem que seja apenas por um dia, saborear no âmago da minha alma, a leveza que é trabalhar para Deus e o silêncio divino que ali se respira.

14 fevereiro 2011

Iniciação à Vida Cartusiana

O presente trabalho foi traduzido e adaptado do original francês, dum monge da Grande Chartreuse, feita na Cartuxa de Ivorá, e está acessivel no blog de Juan Mayo, no link dos trabalhos Cartusianos.
Para os devidos efeitos e, atendendo a que, para além de ter pedido autorização (à qual ainda aguardo resposta), é do dominio público, tomei a liberdade de aqui publicar uma pequena passagem deste excelente trabalho faseadamente, o resto é só fazerem o download...
Por Deus...Tudo!

A - A VIDA CARTUSIANA

Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento... e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas (Mt 22, 37- 40).

O fim

O fim da vida cartusiana é a união com Deus no amor (Estatutos Cartusianos 1, 4). A união mais profunda e contínua que seja possível nesta vida. Amor gratuito e íntimo de Deus, por Ele mesmo. Ele tem seu fruto em
Deus, que é o primeiro a nos chamar a sua amizade: Nele ele nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor (Ef 1, 4). É Deus quem se está doando, é o Espírito Santo em nós.

O caminho

A nossa vida, o nosso amor, é resposta ao amor. Ela está fundada sobre a fé no amor do Pai invisível feito palpável em Cristo e dado a nós pelo seu Espírito.
Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim (Jo 14, 6).
Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque, sem mim, nada podeis fazer (Jo 15, 5).
Filhos no Filho, nós entramos, participamos na vida íntima de Deus. Nascidos do Pai aspiram ao Espírito de amor que cria e regenera toda a humanidade, e todo o universo, eternamente. Já aqui neste mundo unidos a
Cristo, nós vamos ao Pai, no Amor: Pois, por meio dele, nós, judeus e gentios, num só Espírito, temos acesso junto ao Pai (Ef 2, 18) Um manancial se tem alumiado em mim e sussurra; diz no meu íntimo: vem em
direção ao Pai (Ignácio de Antioquia).
Os meios

Para abrir o nosso coração a este caminho de Amor e lhe purificar (porque só os corações puros verão a Deus: Mt 5, 8), nós praticamos a solidão, o silêncio, a pobreza, a castidade, a obediência, a caridade fraterna, a Lectio Divina, o estudo, o trabalho. Mas, sobretudo, nos damos à oração tão contínua quanto nos seja possível, que suba como incenso do altar do nosso coração. Oração de adoração, de louvor e de intercessão no Ofício Divino, onde a Igreja reza pelas nossas vozes. Oração de Cristo. Oração de íntima comunhão com Deus, dentro de nosso coração. Gemidos inefáveis do Espírito, que dão expressão ao desejo profundo e aos sofrimentos do homem e da Criação inteira: Assim também o Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir nem orar como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis (Rom 8, 26). Oração da noite e do abandono. Oração de luz e de alegria. Silêncio de um coração que ama. Dilatação de nosso coração à medida do Seu. Presença. Pobreza. Amor. Simplicidade onde tudo se funda na unidade: Eu lhes dei a glória que me deste para que sejam um, como nós somos um (Jo 17, 22).

O Postulantado

O Postulantado é uma primeira aprendizagem da vida cartusiana. Este livro contém os ensinamentos necessários e os conselhos que nos ajudarão a adaptar a um estilo de vida solitário, silencioso e, contudo, fraternal. Toda ela ordenada à união com Deus no amor: Nele ele nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor (Ef 1, 4). Tendes a simplicidade e a humildade de vos deixar formar pelo ritmo da vida, dia a dia e pouco ao pouco aprendereis no interior pelo coração, os costumes de uma intimidade com Cristo. Vida de paz e de alegria, escola de caridade.

10 fevereiro 2011

5ª feira de Amigos


Vivemos numa sociedade e num ambiente onde temos tudo e mais alguma coisa para sermos, realmente felizes, no entanto, apesar disso, falta à maioria de nós o essencial. Falta à maioria de nós o sentimento de Amizade, no seu real valor.

Hoje pela manhã, como aqui comemoramos a 5ª feira dos Amigos, mandei uma mensagem para os meus sinceros amigos, poucos mas bons. No retorno, tive mensagens de profundo agradecimento e telefonemas sentidos das poucas palavras que redigi (mas sentidas).

Temos tudo e mais alguma coisa mas, o essencial e fundamental, cada vez, é mais procurado. Cada vez mais tentam impingir coisas supérfluas, banais e sem valor algum. Temos tudo e mais alguma coisa, mas na realidade nada temos.
Cultivemos o mais importante, cultivemos a Amizade.