15 dezembro 2009

Sensibilidade e bom senso


Um pequeno artigo que escrevi há dias para eventual publicação num dos jornais da ilha.

O Natal aproxima-se a passos largos. Não o Natal materialista e consumista, no qual Jesus Cristo foi substituído pelo Pai Natal da Coca-Cola e ultimamente pelas Popotas e Leopoldinas do mundo consumista e materialista, mas sim o Natal do nascimento do redentor.
Não o Natal das 1001 luzes a piscarem dentro e fora da casa de cada um, mas sim o Natal da Luz Eterna. O Natal em que “Deus se tornou tão humilde ao ponto de ter vindo, não como um redemoinho avassalador ou um fogo devorador. O Criador de todas as coisas encolheu-se além da imaginação, tanto, tanto, tanto, que tornou-se num óvulo, um simples ovo fertilizado, quase invisível, um óvulo que se dividiria e se redividiria até que um feto fosse formado, expandindo-se célula por célula no ventre de uma jovem. “A imensidão enclausurada no seu amado ventre”, maravilhou-se o poeta John Donne. Ele “a si mesmo se esvaziou [...] humilhou-se a si mesmo”, disse o apóstolo Paulo de forma mais prosaica.” 1
Deus veio até nós, nessa humildade indescritível e nós o que fazemos Natal após Natal?
Gastamos dinheiro em prendas (e não lembranças), muitas delas fúteis e sem utilidade aparente, enquanto ao nosso lado, alguém passa fome sem sabermos (a denominada pobreza encoberta) e alguém pede apenas por pedir (a denominada pobreza de espírito).
Gastamos rios de dinheiro em coisas supérfluas e o essencial da vida é-nos dado quase de graça.
Somos soberbos ao ponto de gastarmos oceanos de dinheiro em inutilidades e pagarmos essas mesmas inutilidades em “suaves prestações”.
Onde mora a humildade de Deus feito Homem?
O verdadeiro Natal será aquele em que todos nós partilhemos afecto e amor com aqueles que são o oposto de nós e em especial com os mais carentes e necessitados, tal como Jesus Cristo, que nasceu no meio do nada e teve tudo aquilo que precisava naquela hora, naquele momento, principalmente os pastores, que na altura e na sociedade em que estavam inseridos não eram tidos nem achados.
O verdadeiro Natal, na minha modesta opinião, será aquele em que o Homem terá sensibilidade e bom senso para com o semelhante e para com todos os seres vivos. “Oxalá se tome consciência do essencial e de que falta tempo para ele: amar gratuitamente, descer ao centro da alma e procurar por lá uma palavra de vida eterna que dê sentido a tudo o que se faz.”2
Termino com uma oração peculiar proferida pelo Padre Joe Wright na abertura de uma nova secção do Senado de Kansas nos EUA:

"Senhor, viemos diante de Ti neste dia, para Te pedir perdão e para pedir a tua direcção.
Sabemos que a tua Palavra disse: 'Maldição àqueles que chamam "bem" ao que está "mal”, e é exactamente o que temos feito.
Temos perdido o equilíbrio espiritual e temos mudado os nossos valores.
Temos explorado o pobre e temos chamado a isso "sorte".Temos recompensado a preguiça e chamámo-la de "Ajuda Social".Temos matado os nossos filhos que ainda não nasceram e temo-lo chamado “a livre escolha".
Temos abatido os nossos condenados e chamámo-lo de "justiça".
Temos sido negligentes ao disciplinar os nossos filhos e chamámo-lo “desenvolver a sua auto-estima”.
Temos abusado do poder e temos chamado a isso: "Política".Temos cobiçado os bens do nosso vizinho e a isso temo-lo chamado "ter ambição".
Temos contaminado as ondas de rádio e televisão com muita grosseria e pornografia e temo-lo chamado "liberdade de expressão".
Temos ridicularizado os valores estabelecidos desde há muito tempo pelos nossos ancestrais e a isto temo-lo chamado de "obsoleto e passado".
Oh Deus! Olha no profundo dos nossos corações; purifica-nos e livra-nos dos nossos pecados.
Ámen. “

1 “O Jesus que nunca conheci” de Philip Yancey
2 “ Se tu soubesse o dom de Deus” de Luís Rocha e Melo SJ


Um Cristão como os demais

14 dezembro 2009

Amalia Rodrigues

FOI DEUS
Composição: Alberto Janes
Não sei, não sabe ninguém
Por que canto o fado
Neste tom magoado
De dor e de pranto
E neste tormento
Todo o sofrimento
Eu sinto que a alma
Cá dentro se acalma
Nos versos que canto
Foi Deus
Que deu luz aos olhos
Perfumou as rosas
Deu oiro ao sol
E prata ao luar
Foi Deus
Que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que vou desfiando
E choro a cantar
E pôs as estrelas no céu
E fez o espaço sem fim
Deu o luto as andorinhas
Ai, e deu-me esta voz a mim
Se canto
Não sei o que canto
Misto de ventura
Saudade, ternura
E talvez amor
Mas sei que cantando
Sinto o mesmo quando
Se tem um desgosto
E o pranto no rosto
Nos deixa melhor
Foi Deus
Que deu voz ao vento
Luz ao firmamento
E deu o azul às ondas do mar
Foi Deus
Que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que vou desfiando
E choro a cantar
Fez poeta o rouxinol
Pôs no campo o alecrim
Deu as flores à primavera
Ai, e deu-me esta voz a mim.