31 outubro 2010

52 -O canto litúrgico

"Modo de cantar e salmodiar

Nossa Ordem reconhece como próprio de sua Liturgia o canto gregoriano.

Devemos participar nos divinos louvores com atendimento e fervor de espírito e estar ante o Senhor não só com reverência, senão também com alegria, não com frouxidão nem sonolência, nem poupando a voz, nem mutilando os vocábulos, senão pronunciando com tom e afeto varonil, como é devido, as palavras do Espírito Santo.

Guardem-se a simplicidade e cadência no canto, para que esteja impregnado de gravidade, e fomente a devoção; já que devemos cantar e salmodiar ao Senhor tanto com o coração como com os lábios. Será ótima nossa salmodia se nos apropriamos o mesmo afeto íntimo com que foram escritos os salmos e cânticos.

Evitem-se na salmodia a lentidão e a precipitação. Cante-se com voz plena, viva e ágil, de sorte que todos possam salmodiar devotamente e cantar com atendimento, sem dissonâncias, com afeto e perfeição.

Na mediante fazemos uma boa pausa. Comecemos e concluamos todos a um tempo o princípio, a divisão e o fim do versículo. Ninguém se permita adiantar-se aos demais nem apressar-se; cantemos todos a uma, todos a uma façamos as pausas, escutando sempre aos outros.

Em toda leitura, salmodia ou canto, não descuidemos acentuar e concertar bem os vocábulos, quanto seja possível, porque o entendimento capta e saboreia ao máximo o sentido, quando se pronuncia com propriedade.

É sumamente conveniente que se forme bem aos noviços no canto e são dignos de louvor os que, depois de sair do noviciado, nunca descuidam tal estudo.

Nas Casas da Ordem celebre-se cantado tanto o Ofício do dia como o da noite, sempre que assistam ao coro ao menos seis padres hábeis.

Os chantres, que estão à frente de cada coro devem ser peritos para poder dirigir bem e oportunamente aos demais na salmodia e canto na forma dita, mas sob a direção e autoridade do Prior. É ademais dever seu corrigir com modéstia os que cantam demasiado lenta ou apressadamente, ou de modo diferente a como está prescrito, mas é melhor do que o façam fora do coro.

Os chantres, em seu coro, sobem ou baixam o tom dos salmos e de todo o canto do Ofício divino, quando pareça conveniente, com o fim de que todos possam cantar comodamente.

Nenhum outro, estando eles presentes, pode corrigir o canto do coro, exceto o Prior ou, em sua ausência, o Vigário.

Perseveremos, pois, nesta maneira de salmodiar, cantando em presença da Santíssima Trinidade dos santos Anjos, inflamados em divino temor e íntimos anseios de Deus. Que o canto eleve nosso espírito à contemplação das realidades eternas, e que a harmonia de nossas vozes aclame jubilosa a Deus nosso Criador. "

41 -A Liturgia em nossa Ordem

"Cume e fonte.

A Liturgia é a cume à qual tende a atividade da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde mana toda sua força. Nós, que o deixamos tudo para procurar a só Deus e possuí-lo mais plenamente, devemos celebrar o culto litúrgico com especial fervor. Pois enquanto realizamos os ritos sagrados, especialmente a Eucaristia, ao ter acesso a Deus Pai por meio de seu Filho, o Verbo encarnado, que padeceu e foi glorificado, na efusão do Espírito Santo, conseguimos a comunhão com a Santíssima Trindade.

Signo de contemplação

Quando celebramos no coro o culto divino ou recitamos na cela o Ofício, nossos lábios pronunciam a prece da Igreja universal, pois a oração de Cristo é única, e por meio da sagrada Liturgia se faz extensiva a cada um de seus membros. Ademais, entre os monges solitários os atos litúrgicos manifestam de um modo peculiar a índole da Igreja, na qual o humano está ordenado e subordinado ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação.

Complemento da oração solitária.

Nossos Padres, ao correr dos séculos, tentaram que nosso rito se conservasse adaptado a nossa vocação eremítica e ao reduzido de nossas Comunidades; por isso é singelo, sóbrio e ordenado antes de mais nada à união da alma com Deus. Nossa Mãe a Igreja, como sabemos, aprovou sempre a diversidade de ritos litúrgicos, que manifesta melhor sua catolicidade e unidade. E assim, por meio dos ritos sagrados podemos expressar as mais profundas aspirações do Espírito, e a oração que brota do íntimo do coração adquire uma nova perfeição ao reconhecer-se a si mesma nas palavras sagradas.

A Liturgia se completa com a oração solitária.

Por outra parte, a oração comunitária que fazemos nossa pela celebração litúrgica, prolonga-se na oração solitária com a que oferecemos a Deus um íntimo sacrifício de louvor que está acima de toda ponderação. A solidão da cela é, efetivamente, o lugar onde o alma, cativada pelo silêncio e esquecida de toda humana preocupação, participa da plenitude do Mistério pelo que Cristo, crucificado e ressuscitado, retorna ao seio do Pai. Assim o monge, ao tender incessantemente à união com Deus, realiza em si mesmo todo o significado da Liturgia. "

30 outubro 2010

38-Eleição do Prior

"Quando alguma Casa da Ordem fica sem Prior, o Vigário deve averiguar por votação secreta dos professos solenes que têm direito a eleger, se querem fazer a eleição do novo Prior. Se então se celebra o Capítulo Geral, a Casa comunicará quanto antes sua resposta ao Definitório. Se não quer eleger, ou se verificado um segundo escrutínio há ainda empate a votos, o Vigário peça ao Capítulo Geral ou, se então não se celebra, ao Reverendo Pai, que segundo sua prudência proveja à Casa em sua necessidade.

Se a Comunidade responde que quer eleger, o Vigário deverá admoestar seriamente no Senhor aos eleitores que a eleição de pastor de almas é assunto muito árduo e de suma importância, já que o bem ou o mal de toda a grei depende quase inteiramente de que o pastor seja bom ou mau; e que, por tanto devem proceder neste assunto com toda retidão, prudência e temor de Deus. Na eleição de Prior se deve atender antes de mais nada às dotes necessárias para o governo das almas. Também se requer alguma aptidão para a administração temporária, mas por si só não pode determinar a dar o voto; ademais, o cuidado do temporário se pode encomendar a outras pessoas.

Uma vez que o Vigário propôs tudo isto, prescreve-se a todos um jejum de três dias consecutivos, a não ser que se interponha uma Solenidade ou um Domingo.

Cada dia, até que tenha Prior, a Comunidade, depois de Laudes e de Vésperas canta com especial devoção o hino Veni, Creator Spiritus, como o traz o Ritual.

Todos podem licitamente, mais ainda devem, conferir aos membros da Ordem que conhecem melhor às pessoas. Mas guardem-se os religiosos assim conferidos de pressionar em modo algum aos eleitores.

Convocar-se-á o antes possível aos Confirmadores que devem presidir a eleição. Serão dois Priores, designados pelo Capítulo Geral ou o Reverendo Pai, ou se não podem achar-se facilmente dois Priores, um com um monge (que não seja da Casa eleitora). Se nada o impede, um dos dois Confirmadores deve ser um dos Visitadores da Província.

Os assim convocados para assistir à eleição, unam-se à Comunidade eleitora no silêncio e a oração, sem intrometer-se na futura eleição de nenhum modo. Sua missão não é designar pessoas, senão somente responder com toda verdade a quem lhes perguntem, e receber simplesmente os votos dos eleitores.

O dia em que se faz a eleição, celebra-se ou concelebra a Missa do Espírito Santo, com assistência de toda a Comunidade; preside um dos Confirmadores. Depois, o Vigário convoca no Capítulo aos Confirmadores e à Comunidade. Ali, estando todos de pé e descobertos, o Confirmador principal começa as preces que traz o Ritual. Depois, ele ou seu colega faz uma exortação. Terminada esta, ficam no Capítulo unicamente os eleitores com os confirmadores; os demais de retiram.

Então o Confirmador principal adverte a todos os eleitores que elejam a quem segundo Deus e sua consciência, julguem que é verdadeiramente apto e idôneo para o cargo de Prior naquela Casa.

Depois disto, o Confirmador principal manda que cada qual vá ao lugar destinado para escrever as papeletas, nas que só se põem o nome e sobrenome do proposto para Prior. Imediatamente se mete a papeleta num envelope, leva-se à mesa dos Confirmadores e se joga na urna ali preparada ao efeito.

Se algum dos que têm voto não pode assistir pessoalmente à eleição poderá escrever uma papeleta e metê-la num envelope, igual que os demais. E os mesmos Confirmadores irão a sua cela, se é necessário, para recolher o voto.

Feita a votação, o Confirmador principal conta as papeletas e asabre. É preciso que o futuro Prior obtenha mais da metade dos votos emitidos de fato, isto é, sem contar os votos nulos e as abstenções. Se nenhum os atinge, os Confirmadores darão os nomes dos que obtiveram votos e dirão quantos recaíram sobre cada um. Então se queimarão ali as papeletas e se voltarão a escrever outras novas.

Se depois da terceira votação ninguém fica eleito, pode-se fazer uma quarta e última votação o mesmo dia; antes da qual poderão sair os monges fora do Capítulo e trocar opiniões entre si, mas sem falar com outros. Se finalmente não sai nenhum eleito, terá que escrever todo o assunto ao Reverendo Pai, quem, depois de ouvir aos Visitadores da Província proverá à Casa privada de pastor.

Mas, se resulta eleito algum, o Confirmador principal dirá em alta voz: Temos Prior, e dirá seu nome, sua Casa de Profissão e a obediência que tem, se então tivesse alguma, indicando também o número de votos que obteve. Por último, queimam-se todas as papeletas.

Depois de publicar-se adiante de todos o nome do Prior, o Vigário, a não ser que tenha recaído sobre ele a eleição, roga aos Confirmadores que acedam a confirmar como Prior ao eleito. Os Confirmadores assinalarão um prazo, a saber, um ou dois dias, para objetar contra a forma da eleição e a pessoa do eleito.

Se os Confirmadores não encontram nenhum impedimento, congregados em Capítulo todos e só os eleitores, enquanto os demais se reúnem na igreja, confirmarão ao eleito dizendo o Confirmador principal: Nós, N. e N., humildes Priores das Casas N. e N., designados pelo Capítulo Geral (ou pelo Reverendo Pai) para presidir vossa eleição, com a autoridade de nossos Estatutos vos confirmamos como Prior desta Casa a Dom N., professo de tal Casa, no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. E a Comunidade responderá: Amém. Quando um dos Confirmadores está impedido ou é o eleito Prior, o outro fará por si só a confirmação. Depois, o segundo Confirmador lerá o processo verbal da eleição, que assinarão primeiro os Confirmadores e, depois deles, todos os eleitores.

O dia em que o Prior toma posse de seu cargo, à hora convinda, os Confirmadores (ou, em sua ausência, o Vigário e o Antiquior), tomando da cogula uno de cada lado ao novo Prior, conduzem-no à cadeira prioral na igreja, seguidos por toda a Comunidade. Feita ali uma breve oração ante as formas, de joelhos e descobertos, vão todos ao Capítulo, onde, depois de algumas palavras do Confirmador principal (ou do Vigário) ao novo Prior, este faz a profissão de fé segundo a norma canônica. A seguir se lhe acerca o Vigário e, de joelhos põe suas mãos juntas entre as do Prior. Ao perguntar-lhe este: “Prometes obediência?”, responde: “Prometo”, e, recebido o ósculo de paz levanta-se e se volta a seu lugar. O mesmo fazem depois do Vigário, o Antiquior e os demais por ordem.

Todo esse dia se celebra com gozo, come-se no refeitório e não se guarda jejum, a não ser que seja tal do que nem por uma Solenidade se quebrantaria. O Ofício que precede ao refeitório se canta na igreja. "

29 outubro 2010

36 -Ritos da vida cartusiana

"O que ingressa na família cartusiana, depois de uma primeira provação é recebido como novicio : pondo suas mãos entre as do Prior expressa sua sujeição e é sócio à Ordem; se o conduz por todos à cela ou, se é um novicio irmão, à igreja, para dar-lhe a entender que sua vida está principalmente consagrada à oração.

A Profissão, e também a sua maneira a Doação, consumam-se ao pronunciar a fórmula de Profissão ou Doação, já que é um compromisso pessoal e livre. Antes de emitir os primeiros votos, ao que vai professar se lhe veste a cogula própria dos professos, pela que se significa a conversão de costumes e a consagração a Deus; antes do ato irrevogável da Profissão solene, pede com particular interesse a ajuda da oração a seus irmãos.

Recepção de um novicio do claustro

O postulante, ao fim de seu provação, é apresentado num determinado dia à Comunidade. Adiante desta, se lhe pergunta antes de mais nada se professou em algum Instituto religioso, se está livre do vínculo matrimonial, se padece alguma doença incurável, se pode ser promovido às sagradas Ordens, se carece de dívidas; advertindo-se que se ocultasse algo a respeito do que se lhe pergunta, poderá ser expulsado ainda depois da Profissão.

Outro dia, reunidos todos no Capítulo, o postulante pede misericórdia prostrado. Depois, a uma indicação do Prior, levanta-se e diz: Suplico por amor de Deus ser admitido à provação em hábito monacal, como o mais humilde servidor de todos se a ti, Pai, e à Comunidade vos parecer bem.

Então o Prior lhe expõe o gênero de vida que deseja abraçar.

Se a tudo isso respondesse que, confiando unicamente na misericórdia de Deus e nas orações de seus irmãos, tudo cumprirá com a ajuda da clemência divina, o Prior adverte-o que antes da Profissão poderá ir-se livremente, e que nós também o poderemos despedir com toda liberdade se, considerando o caso ante Deus, não nos parecesse idôneo para nossa vida. Se o postulante dá sua conformidade, ajoelha-se aos pés do Prior, juntas suas mãos entre as do Prior, e este, em nome de Deus e da Ordem, no seu próprio e no de seus irmãos, associa-o à Ordem. A seguir, o novicio recebe o ósculo de paz, primeiro do Prior, e depois, de todos os demais.

O mesmo dia, se é possível, ao novicio, vestido em privado, se o conduz à igreja, e, prostrado, ora na arquibancada do presbitério. O Prior, revestido de cogula eclesiástica e estola branca, coloca-se na última cadeira do coro direito. Os monges, de joelhos, coro contra coro, cantam o versículo Veni, Sancte Spiritus. Uma vez findo, inclinados todos sobre as misericórdias, o Prior diz um versículo e adiciona uma oração.

Depois, o novicio é conduzido por todos à cela, talheres, cantando os salmos 83 (Que desejáveis...), 131 (Senhor, tem-lhe em conta...) e 50 (Misericórdia...). Se bastam um ou dois, não se dizem mais. Vai primeiro o Prior, segue o novicio, depois o Procurador ou outro levando o água bendita e, finalmente, a Comunidade por ordem de antigüidade. Ao chegar o Prior à porta da cela, asperge ao noviço e à cela mesma, dizendo: Paz a esta casa, e, tomando ao novicio pela mão, fá-lo entrar ao oratório, onde este ora ajoelhado. Terminado o salmo ou os salmos pela Comunidade seguem as preces indicadas no Ritual.

Uma vez concluídas as preces, o Prior impõe ao novicio a obrigação de guardar a cela e todas as demais observâncias e exercícios próprios de nossa Ordem, a fim de que em solidão e silêncio, e em assídua oração e generosa penitência, consagre-se a só Deus. E o encomenda ao Mestre de noviços.

Recepção de um noviço irmão

O postulante, ao final de seu provação, é apresentado num determinado dia à Comunidade. Antes de mais nada se lhe pergunta adiante dela se professou em algum Instituto religioso, se está livre do vínculo matrimonial, sem padece alguma doença incurável, se carece de dívidas; advertindo-se que se ocultasse algo a respeito do que se lhe pergunta, poderá ser expulsado ainda depois da Profissão.

O dia da recepção o postulante, prostrado no Capítulo adiante de toda a Comunidade, pede misericórdia. A uma indicação do Prior, revestido de cogula eclesiástica e estola branca, levanta-se e suplica por amor de Deus ser admitido à provação em hábito monacal como o mais humilde servidor de todos. O Prior, pronunciada uma exortação, adverte-lhe que durante o noviciado poderá ir-se livremente, e que também nós o poderemos despedir se, considerado o caso ante Deus, não nos parecesse idôneo para nossa vida. O postulante, depois de dar seu consentimento, ajoelhando-se aos pés do Prior, junta as mãos entre as mãos do Prior; este, em nome de Deus e da Ordem, no seu próprio e no de seus irmãos, associa-o à Ordem. Então se lhe veste a cogula de novicio e a capa, e é recebido com o ósculo de paz, primeiro pelo Prior e a seguir por todos os demais.

Ato seguido, o novicio é conduzido do Capítulo à igreja, cantando a Comunidade o salmo 83 (¡Que desejáveis...). Vai diante o Prior, segue o novicio, depois os padres e irmãos, por ordem de antiguidade. Ao chegar o Prior à igreja, tomada ao novicio da mão e o leva às arquibancadas do presbitério, onde se prostra em oração.

Entre tanto, a Comunidade, de joelhos, canta o verso Veni, Sancte Spiritus. Depois, o Prior, inclinado sobre as misericórdias ao mesmo tempo em que a Comunidade, diz o versículo e adiciona uma oração. Acabado tudo, o novicio se levanta, faz inclinação profunda, e vai a sua cadeira do coro.

Profissão de votos simples

O dia antes da Profissão, seja simples ou solene, o novicio, antes de Vésperas, ou também o mesmo dia da Profissão pela manhã no Capítulo, prostrado adiante da Comunidade, pede misericórdia; ao dizer-lhe o Prior Levanta-te, levanta-se e suplica ser admitido à Profissão como o mais humilde servidor de todos; e escuta de pé o sermão do Prior.

O dia da Profissão expõem-se no altar algumas Relíquias de Santos.

Quando se trata da Profissão temporária, ao começar o Kyrie eleison na Missa conventual, o Mestre de noviços ou outro se ele está impedido, deixa a nova cogula sobre as formas, adiante do que vai professar. Depois do Evangelho, ou o Credo, se se diz, omitida a Oração universal, o que vai professar se dirige à arquibancada do presbitério levando a nova cogula nas mãos, e ali, feita inclinação profunda, deixa-a e fica em pé. Então se lhe acerca o Prior e diz as preces contidas no Ritual. Depois abençoa, com a mão estendida, a cogula posta sobre a arquibancada ante o que vai professar, dizendo a oração adequada. Terminada a bênção, asperge com água bendita a cogula.

Ato seguido, de joelhos ante o Prior na primeira arquibancada do presbitério, o que vai professar recita com voz inteligível (e se são variados, recitam juntamente) o salmo 15 (Protege-me, Deus meu), até o versículo O Senhor é o lote, exclusive. Então o Prior, ajudado pelo Sacristão, tira ao novicio a capa e a cogula, dizendo: Que Deus te despoje do homem velho e de suas ações, e lhe põe a cogula longa, dizendo: e te revista do homem novo que foi criado por Deus em verdadeira justiça e santidade. Se forem variados, repete as mesmas palavras para cada um.

Seguidamente, o novicio lê a fórmula da Profissão, escrita numa folha de papel que sustenta na mão. Se forem variados, têm de lê-la um por um.

Emitidos os votos, o professo entrega a folha ao Prior, e continua a leitura do salmo antes começado, desde O Senhor é meu lote até Glória ao Pai... Amém. Terminado isto, faz inclinação profunda e volta a seu lugar.

Na Missa de Profissão, o mesmo temporal que solene, o novo Professo, ainda que seja sacerdote, comunga depois do diácono de mãos do Prior, e, pelo mesmo, não concelebra; mas pode celebrar Missa rezada no mesmo dia.

Profissão solene.

Sobre as cerimônias em Capítulo e a preparação do altar, veja-se o n. 8. Na Missa, que é do Prior, terminado o Evangelho, ou o Credo se se canta, omitida a Oração universal, o que vai professar (ou os que vão professar) acerca-se ao centro da arquibancada do presbitério, e ali, depois de ter feito uma inclinação profunda, canta o verso:

Acolhei-me, Senhor, com tua promessa, e viverei: que não fique frustrada minha esperança.. Ao qual responde a Comunidade, de cara ao altar, o mesmo e no mesmo tom. Repetido três vezes este verso por ambas as partes, a Comunidade, inclinada sobre as misericórdias, canta o Glória Pai..., Senhor, tem piedade..., e ora em segredo.

O que vai professar se incorpora ao começar o Como era no princípio, dirige-se pelo lado direito do coro até a cadeira primeira, e, de joelhos ante o monge, que está de pé, e depois ante os demais monges deste coro, diz com voz inteligível: irmão, roga por mim; passando, depois, aos monges do coro esquerdo, faz o mesmo. Depois do qual, a Comunidade se ergue e se volta para o altar; e o que vai professar, de pé ante o meio do altar e voltado para ele, lê, com voz clara e inteligível que todos a ouçam, sua Profissão escrita em pergaminho; uma vez lida, beija o altar e a oferece sobre o mesmo. Prostrado adiante da cátedra aos pés do celebrante, recebe a bênção; enquanto , a Comunidade se inclina sobre as misericórdias. O Prior canta a oração com a mão estendida sobre o professo, e se são variados a diz em plural. Depois o asperge com água bendita. O professo volta a seu lugar.

Na Prece eucarística se faz comemoração do novo professo solene, para que seu oblação fique mais intimamente incorporada ao sacrifício do divino Redentor.

Doação temporária

A Doação temporária se faz no Capítulo, antes de Vésperas, em presença da Comunidade. O novicio, prostrado, pede misericórdia. A uma indicação do Prior, vestido com cogula eclesiástica e estola branca e sentado ante o altar, levanta-se e diz: Suplico por amor de Deus ser admitido à Doação temporária como o mais humilde servidor de todos, se a ti Pai, e à Comunidade vos parecer bem.

Depois, tendo escutado a exortação do Prior, enquanto a Comunidade permanece sentada e coberta, o novicio se adianta e se ajoelha ante a arquibancada do altar. O Prior se levanta e, ajudado pelo Procurador e o Sacristão, tira-lhe a capa e a cogula pequena, dizendo: Que Deus te despoje do homem velho e de suas ações, e lhe põe a cogula longa sem bandas, dizendo: e te revista do homem novo que foi criado por Deus em verdadeira justiça e santidade. Se forem variados, repete o mesmo a cada um.

O novicio lê então a fórmula de Doação, escrita numa folha de papel que tem na mão, e a entrega ao Prior uma vez feita a Doação.

O Prior aceita a doação com estas palavras: E eu, caríssimo irmão, aceito tua Doação no nome de Deus e da Ordem; e, em meu nome e no dos meus sucessores, comprometo-me prover, com coração de pai, a todas tuas necessidades espirituais e corporais, desde que permaneças fiel a tuas promessas. E que a bênção de Deus todo-poderoso, Pai, + Filho e Espírito Santo, desça sobre ti e contigo permaneça para sempre. R/. Amém. Depois da palavra “prometo”, adiciona o tempo da Doação, se se trata da temporal; ou “durante toda tua vida”, se se trata da perpétua. Depois, todos vão ao coro para cantar as Vésperas.

Doação perpétua.

A Doação perpétua se faz em presença de toda a Comunidade, antes de Vésperas. Primeiro, reunida a Comunidade em Capítulo, o doado se prostra ante o Prior, que está sentado e revestido de cogula eclesiástica e estola branca, e pede misericórdia. Levanta-se a uma indicação do Prior, e diz: Suplico por amor de Deus ser admitido à Doação perpétua como o mais humilde servidor de todos, se a ti, Pai, e à Comunidade vos parecer bem.

Ouvida a exortação do Prior, dirigem-se todos à igreja, indo o doado por trás do Prior. O doado se ajoelha na arquibancada do presbitério, estando o Prior de pé adiante dele, e os demais monges em seus lugares de pé, voltados para o altar e talheres. Então o doado lê a fórmula de Doação, e o Prior a aceita e o abençoa.

Depois, enquanto o doado permanece ajoelhado no mesmo lugar, o Prior vai à última cadeira do coro direito e a Comunidade, de joelhos ante as formas, canta o Sub tuum præsidium. O cantor hebdomadario adiciona um versículo, e o Prior recita uma Oração.

Depois, este se deixa a cogula eclesiástica no vestuário e vai a sua cadeira; também o doado vai a sua cadeira, e começam as Vésperas. "








































































28 outubro 2010

35 -Os Estatutos mesmos

"Prestemos atendimento à disciplina de nossos Padres, renovada e acomodada nestes Estatutos, e meditemo-la continuamente. Não a abandonemos, e ela nos guardará. Amemo-la, e nos protegerá.

Ela é a forma e o sacramento da santidade determinada por Deus para cada um de nós. Mas é o Espírito o que vivifica, e quem não nos permite contentar-nos com a letra. Porque a isto tendem unicamente os presentes Estatutos, a que, guiados pelo Evangelho, percorramos o caminho de Deus e aprendamos a amplitude da caridade.

O que não está expressado nos Estatutos, deixa-se ao arbítrio do Prior, com a condição que suas disposições estejam em harmonia com eles. Não queremos, no entanto, que por este ou outro motivo mudem os Priores facilmente os costumes sãos e religiosos de suas Casas. No entanto, tais costumes nunca poderão prevalecer contra os Estatutos.

Se pecar teu irmão, vê e corrige-o a sós tu com ele, diz o Senhor. Isto requer uma grandíssima humildade e prudência, e é danoso a não ser que se faça movimentado por pura caridade, que não procura seu proveito. Por nossa parte, desejemos também nós ser corrigidos. No entanto, com freqüência será melhor encomendar as advertências ao Prior, ao Vigário ou ao Procurador, que as levarão a cabo segundo se o dite sua consciência e prudência.

Os monges prestem aos Estatutos uma obediência responsável, não por ser vistos como se procurassem agradar aos homens, senão com singeleza de coração, temerosos de Deus. Não esqueçam que uma dispensa sem causa justa, é nula. Ouçam e cumpram também com toda mansidão os preceitos e advertências de seus maiores, sobretudo os do Prior, que faz as vezes de Deus. E se alguma vez erram como homens, não demorem em emendar-se para não dar ocasião ao demônio; mais bem voltem, pelo trabalho da obediência àquele de quem o homem se tinha apartado pela negligência da desobediência.

Contemplando todos os benefícios que o Senhor preparou aos que chamou ao deserto, alegremo-nos com nosso Pai São Bruno de ter atingido o repouso calmo do mais resguardado porto, no que somos convidados a sentir em parte a incomparável beleza do sumo Bem. Gozemo-nos, pois, por nossa feliz sorte e pela abundância da graça de Deus para com nós, dando sempre graças a Deus Pai que nos fez aptos para participar na herança dos santos na luz. Assim seja. "

34 -Missão da Ordem na Igreja

"Quanta utilidade e gozo divino trazem consigo a solidão e o silêncio do deserto a quem os ama, só o sabe quem o experimentou. Mas esta melhor parte não a elegemos unicamente para nosso próprio proveito. Ao abraçar a vida oculta, não abandonamos à família humana, senão que, consagrando-nos exclusivamente a Deus, cumprimos uma missão na Igreja onde o visível está ordenado ao invisível, a ação à contemplação.

Se realmente estamos unidos a Deus, não nos encerramos em nós mesmos, senão que, pelo contrário, nossa mente se abre e nosso coração se dilata, de tal forma que possa abarcar ao universo inteiro e o mistério salvador de Cristo. Separados de todos unimonos a todos pára, em nome de todos, permanecer na presença do Deus vivo. Esta forma de vida que, quanto o permite a condição humana, orienta-se a Deus de forma direta e contínua, põe-nos num contato peculiar com a bem-aventurada Virgem Maria, à que costumamos chamar Mãe singular dos Cartuxos.

Tendendo por nossa Profissão unicamente àquele que é, damos depoimento ante um mundo demasiado implicado nas coisas terrenas, de que fora dele não há Deus. Nossa vida manifesta que os bens celestiais estão presentes já neste mundo preanuncia a ressurreição e antecipa de algum modo a renovação do mundo.

Finalmente, pela penitência participamos na obra de salvação de Cristo o qual isentou ao mundo escravo do pecado, especialmente com sua oração ao Pai e sacrificando-se a Si mesmo. Por isto, os que pretendemos viver este aspecto cristão da missão de Cristo, ainda que não nos dediquemos a nenhuma ação externa, no entanto exercitamos o apostolado de uma maneira preeminente.

Por tanto, para louvor de Deus, a cujo fim se fundou especialmente a eremítica Ordem cartusiana, entregados à quietude da cela e ao trabalho, ofereçamos-lhe um culto incessante para que, santificados na verdade, sejamos os verdadeiros adoradores que procura o Pai. "

27 outubro 2010

33 -A conversão de vida

"Quanto mais elevado é o caminho que se nos abriu aos que herdamos de nossos Padres uma forma de vida santa, maior perigo temos de cair, não só por transgressões manifestas, senão também pelo peso natural da rotina. Como Deus dá sua graça aos humildes, devemos recorrer sobretudo a Ele, e estar sempre em pé de guerra, não seja que a vinha eleita se converta em bastarda.

O que nosso ideal de vida se mantenha a sua altura, depende mais da fidelidade de cada um do que da acumulação de leis, a adaptação de nossos usos, ou inclusive a concorrência dos Priores.

Não bastaria obedecer as ordens dos Superiores e cumprir exatamente a letra dos Estatutos, se, guiados pelo Espírito, não sentíssemos segundo o Espírito. O monge, desde o começo de sua nova vida colocado na solidão, fica a seu livre arbítrio. Como já não é menino, senão varão, não ande flutuando levado por todo vento, senão examine o que agrada a Deus e siga-o espontaneamente, pondo em jogo, com sóbria sabedoria, a liberdade dos filhos de Deus de que é responsável ante o Senhor. Que ninguém, no entanto, tenha-se por sábio em sua própria estimação; porque quem descuida abrir seu coração a um guia experimentado, é de temer que, defeituoso de discrição caminhe menos do preciso, canse-se de correr ou, detendo-se, fique dormido.

Como, pois, poderemos cumprir nosso ofício no Povo de Deus como vítimas vivas, agradáveis a Deus, se nos deixamos separar do Filho de Deus, que é ao mesmo tempo vida e hóstia por excelência, pela relaxação e a inmortificação, as divagações da mente a vã charlatanearia, os inúteis cuidados e ocupações; ou se o monge na cela se acha aprisionado por seu amor próprio com miseráveis preocupações?

Esforcemo-nos com toda energia em estabilizar em Deus nossos pensamentos e afetos, com singeleza de coração e castidade de mente. Cada um, esquecido de si mesmo e do caminho deixado atrás, corra para a meta, para atingir o prêmio a que Deus o chama desde o alto em Cristo Jesus.

Mas quem não ama a seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê. Dado que o fraterno diálogo entre os homens não se faz perfeito senão através do mútuo respeito das pessoas, certamente nos compete em grau máximo a nós, que moramos na Casa de Deus, dar depoimento da caridade que de Deus procede, quando recebemos amavelmente aos irmãos que convivem conosco, e nos preocupamos por abraçar com mente e coração o caráter e os modais deles, por mais diferentes do que sejam dos nossos. Porque as inimizades, as disputas e outras coisas semelhantes, nascem geralmente do desprezo dos demais.

Evitemos tudo o que possa prejudicar ao bem da paz; sobretudo, não falemos mal de nosso irmão. Se na Casa nasce alguma dissensão entre uns monges com outros ou entre os monges e o Prior, provem-se paciente e humildemente todos os meios que possam resolver o assunto com caridade, antes de comunicá-lo aos Visitadores, ao Reverendo Pai ou ao Capítulo Geral. O melhor é do que a paz se conserve na família conventual, como fruto do esforço e a união de todos. O Prior, nesses casos, não se mostre dominante, senão como um irmão; e se está em culpa, que a reconheça e se emende.

Como por causa dos Priores em grande parte decai ou floresce o espírito nas Casas da Ordem, tentem edificar com seu exemplo, praticando antes de ensinar, sem permitir-se falar nada que o mesmo Cristo não tivesse querido dizer por eles. Entregados à oração ao silêncio e à cela, façam-se merecedores da confiança de seus súbditos, e mantenham com eles uma verdadeira comunhão de caridade. Com benignidade e interesse vejam qual é sua vida na cela e qual seu estado de ânimo, para atalhar suas tentações aos começos, não seja que depois, quando o mal está muito arraigado, aplique-se demasiado tarde o remédio.

Por último hoje em dia há que evitar sobremaneira conformar-se ao mundo presente. Porque o procurar demasiado e abraçar com facilidade as coisas que olham à comodidade da vida, contradizem totalmente a nosso estado, especialmente porque uma novidade chama a outra. Os meios que nos concedeu a divina Providência não são para tentar-nos uma vida de presente. O caminho para Deus é fácil, pois se avança por ele não se carregando de coisas, senão desprendendo-se delas. Despojemo-nos a tal ponto que, tendo-o deixado tudo e a nós mesmos, participemos do estilo de vida de nossos primeiros Padres. "

32 -A visita Canônica

"O Capítulo Geral, muito solícito de que nas Casas da Ordem reinem a caridade, a paz e uma fiel observância, estabeleceu que cada dois anos se enviem Visitadores a todas elas, com o fim de expressar-lhes a solicitação da Ordem por cada uma, e com os poderes necessários para solucionar qualquer dificuldade que possa apresentar-se.

A Comunidade, desejando que a Visita seja um momento favorável no que Deus comunica sua graça, receberá com espírito de fé aos Visitadores ou os Comissários, que gozam da autoridade do Capítulo Geral ou do Reverendo Pai. Cada monge se esforçará com toda vontade em ajudá-los ao cumprimento de seu cometido. Visitadores e monges farão tudo o possível por estabelecer uma relação de mútua confiança.

O primeiro dever dos Visitadores é acolher aos monges com fraterna caridade e escutá-los com sumo atendimento. Depois, se esforçam por ajudar a todos a dar ao Senhor e a seus irmãos o melhor de si mesmos.

Exerçam seu cargo, não como juízes, senão como irmãos a quem os tentados e afligidos possam abrir livremente sua alma, sem temor de ver divulgadas suas confidências. Em assunto de tanta importância não se precipitem, senão procedam com calma.

Cada um pode falar livremente com os Visitadores para expor-lhes o que requer de sua parte uma solução ou um conselho, já se trate de sua vida pessoal ou da Comunidade. Também poderão expor-lhes com espírito construtivo, quaisquer coisas que pareçam úteis ao bem comum.

Antes de falar de outro monge, recolhamos o coração ante Deus; porque tanto mais poderemos praticar a verdade na caridade, quanto com ânimo mais dócil respondamos ao Espírito Santo. O que boamente está em paz, de ninguém suspeita. Mais vale com freqüência guardar silêncio, que perder tempo falando de coisas que não se podem provar, ou de futilidades, ou ainda denunciando a quem já estão em caminho de corrigir-se.

Aos Visitadores corresponde não só dialogar com cada monge em particular senão também com a mesma Comunidade, como se faz na primeira e a última sessão da Visita.

A fim de que a Visita produza, com a ajuda do Senhor, frutos perduráveis, tentarão que a mesma Comunidade tome como coisa sua a própria renovação espiritual.

Os Visitadores se informarão da marcha da Comunidade e dos progressos realizados desde a última Visita, ou das dificuldades que tenham sobrevindo. Estimularão à Comunidade a perguntar-se sobre a fidelidade ao espírito e à letra da observância regular conforme se expõe nos Estatutos. Examinem também as contas da Casa, e vejam como se guarda a pobreza evangélica. Indicarão os remédios aos abusos que quiçá encontrem. A uma com os monges, e particularmente com o Prior, vejam atenciosamente com que disposições se ajudará à Comunidade para que sempre progrida na fidelidade a sua vocação.

Antes de dar por finda a Visita, escreverão os Visitadores na Carta as orientações que tenham dado e as decisões tomadas, e a redigirão em termos singelos e acomodados às pessoas Solícitos pela continuidade do progresso da Comunidade em seu caminho para Deus, recordarão, se é preciso, alguns pontos já assinalados na Carta da Visita precedente.

Será oportuno muitas vezes pôr antes ao corrente ao Prior das medidas que pensam tomar, e escutar suas observações. Convém, efetivamente, que os Visitadores conheçam as intenções pastorais do Prior para guiar a seus monges, a fim de apoiá-las com eficácia.

Antes de tomar uma decisão com respeito a algum, ou de fazer alguma correção, os Visitadores tentem escutá-lo. Se julgam útil fazer observações a um monge, se o explicarão de palavra e de maneira que compreenda bem sua intenção. Finalmente, não se marchem da Casa sem antes segurar-se de que a Comunidade entendeu bem as intenções e prescrições da Carta.

Como o aproveitamento das Casas depende muito da eficácia das Visitas os Visitadores procedam em seu ofício com solicitação e entrega, sem contentar-se nunca com o cumprimento meramente formal e exterior. Pensando unicamente no bem das almas, não poupem tempo nem esforços para que sua Visita aumente nos corações a paz e o amor de Cristo. "

26 outubro 2010

31 -O regime da Ordem

"Os primeiros Priores da Ordem, querendo assegurar a continuidade e a estabilidade do ideal cartusiano, decidiram de comum acordo celebrar um Capítulo Geral na Grande Cartuxa; todos submeteram à autoridade deste Capítulo suas Casas, para que as corrigisse e as conservasse em vigor, e prometeram ao mesmo obediência, em nome próprio e de suas Comunidades. Assim se consolidou para sempre o laço de caridade que une as Casas e a todos os membros da Ordem, resolvidos a avançar prazenteiramente pela senda do Senhor.

O Capítulo Geral se celebra cada dois anos, e a ele assistem os Priores, os Reitores, o Procurador Geral e os Vigários de monjas Se não pudesse assistir algum dos que estão à frente das Casas, delegará num monge professo solene. Se alguma Casa não tivesse Prior, o Reverendo Pai poderá convidar a algum monge da mesma, professo de votos solenes, a que assista ao Capítulo Geral. Todos os quais no Capítulo gozam dos mesmos direitos e funções, a saber, os dos Priores.

A Assembleia na que se reúnem todos os que têm os direitos de Prior, e também os demais monges que possivelmente se encontrem entre os Definidores, chama-se Assembleia Plenária, a qual preside o Reverendo Pai. Esta Assembleia tem potestade para opinar de todos os assuntos referentes à Ordem, menos os que são concorrência do Definitório. Também dá a Assembleia seu voto consultivo sobre os pontos propostos pelos Definidores, e em tais casos estes não dão seu voto.

O Definitório, presidido pelo Reverendo Pai, está constituído pelo mesmo Reverendo Pai e por oito Definidores eleitos segundo se diz em outro lugar. Exceto o Reverendo Pai, ninguém pode ser eleito Definidor, se o foi já no Capítulo Geral precedente.

O mesmo Definitório opina a respeito das pessoas e das Casas. Em cada Capítulo Geral, segundo a comum obediência prometida e devida ao mesmo, todos os Prelados pedem misericórdia, para que o Definitório possa deliberar a respeito de sua absolvição ou confirmação. Pois, segundo nossa tradição, o Prior desempenha seu cargo enquanto pode exercê-lo com proveito da Comunidade a juízo do Capítulo Geral.

Também corresponde ao Definitório nomear ao Procurador Geral, que representa à Ordem ante a Sede Apostólica. Não se pode estabelecer nem levar a efeito nada contra o contido nestes Estatutos que diminua o antigo rigor da Ordem cartusiana, a não ser que seja aprovado em dois Capítulos sucessivos, ao menos por dois terços dos que de fato tenham dado seu voto.

Se uma Ordenação, ainda que não afecte ao rigor da Ordem, mudasse, no entanto, nossa observância substancialmente em algum ponto, não pode promulgar-se, salvo que obtenha pelo menos dois terços dos votos emitidos de fato, e deverá ser confirmada pelo seguinte Capítulo na mesma forma.

O Reverendo Pai, isto é, o Prior de Cartuxa, é Ministro Geral de toda a Ordem. Elege-o a Comunidade da Grande Cartuxa, mas esta eleição não tem valor jurídico até que seja aceitada pelo colégio ou reunião dos Priores, as Prioras, e os Reitores.

Qualquer que tenha sido eleito Reverendo Pai, não pode recusar este ofício.

O Reverendo Pai, a quem corresponde como Ministro Geral conservar a unidade da Ordem, tem potestade ordinária sobre as monjas cartuxas.

Todos os que gozam de autoridade na Ordem, considerem sempre a mente e as leis da Igreja como norma suprema segundo a qual se têm de entender as tradições da Ordem. Os Priores, a quem seus súbditos devem pronta obediência, convém que a sua vez deem exemplo a seus religiosos, submetendo-se humildemente às ordenações do Capítulo Geral ou do Reverendo Pai, e não as criticando adiante de outros.

Para fomentar melhor a comunhão de nossa Ordem com o Sumo Pontífice, o Reverendo Pai tem de enviar cada seis anos um breve relatório sobre a situação e a vida da Ordem à Sede Apostólica. "

30 -A estabilidade

"O monge não oferece a Deus a perfeita oblação de si mesmo, a não ser que durante toda a vida permaneça constante em seu propósito, o que livremente promete cumprir na Profissão solene.

Por tanto como esta é irrevogável, antes de fazê-la pense com acalma se realmente quer entregar-se para sempre a Deus.

Em força da Profissão, o monge se insere na Comunidade como na família que Deus lhe deu, na que tem que se estabilizar em corpo e alma.

Cada um, por tanto, uma vez que se consagrou em seu estado, seja pai ou irmão, esmere-se por perseverar e avantajar-se na vocação à que foi chamado, para uma mais abundante santidade da Igreja e para maior glória da Trindade, uma e indivisível.

Os monges não criam com facilidade que têm razões de importância para pedir a seus Superiores o traslado. A miragem e o desejo de mudanças de lugar enganaram a muitos, e desdiz do monge o estar tão pendente do clima, a alimentação, o caráter dos homens e outras particularidades pelo estilo.

Sabemos quanto favorecem à contemplação dos divinos mistérios a paciência e a perseverança nas condições de vida que o Senhor nos assinalou. Porque é impossível que o homem centre sua alma numa só coisa, se antes não fixa perseverantemente seu corpo num lugar; e também a mente deve abraçar-se inquebrantavelmente a sua vocação, para poder acercar-se àquele em quem não há mudança nem sombra de mudança. "

25 outubro 2010

29 -A administração dos bens temporários

"O Prior não cuida coisas suas ou dos homens, senão as de Cristo pobre, a quem terá de dar conta de tudo. A ele lhe corresponde dirigir aos Oficiais e subordinados na administração dos bens empregá-los com discrição, segundo Deus, a própria consciência e o critério da Ordem e dos Estatutos, e velar solicitamente para que não se desperdice nada.

O Procurador apresenta ao Prior recém instalado o estado dos bens principais da Casa, tanto móveis como imóveis, que será assinado pelo Prior e seu Conselho. O ata desta relação se guardará no arquivo da Casa.

Para a sustentação de nossas Casas determinaram nossos Padres não se fiar nos donativos que se recebem, senão, com a ajuda do Senhor, dispor de alguma renda anual fixa. Pois lhes parecia que por benefícios incertos não se têm de assumir ônus verdadeiros, que, depois, não se podem nem sustentar nem abandonar sem grande perigo; os quais, ademais, sentiram horror pelo costume de andar pelo mundo pedindo esmola.

Cremos, no entanto, que com a ajuda de Deus nos bastarão uns recursos modestos, se persevera o empenho do antigo propósito de humildade pobreza e sobriedade na comida, no vestido e restantes coisas pertencentes a nosso uso, e se, em resumo, o desprezo do mundo e o amor de Deus, por quem se têm de suportar e fazer todas as coisas, vai crescendo de dia em dia. A nós também se referem às palavras do Senhor: Não vos inquieteis pelo dia de manhã, pois bem sabe vosso Pai celestial que de tudo isso tendes necessidade. Procurai primeiro o reino de Deus e sua justiça.

Ainda que a Casa pode possuir tudo o necessário para a vida da Comunidade segundo a natureza de nosso Instituto, deve-se evitar qualquer luxo, lucro imoderado e acumulação de bens, para dar depoimento de verdadeira pobreza. Pois não basta que os monges se submetam ao Superior no uso dos bens; é preciso que, como Cristo, sejam pobres realmente, tendo seu tesouro no céu. Não só se tem de evitar a sumptuosidade, senão também a comodidade excessiva, para que tudo em nossas Casas tenha esse ar de singeleza característico de nossa vocação.

Nossos edifícios sejam certamente adequados e idôneos para nosso modo de vida; mas em todas partes fique a salvo neles a singeleza. Porque nossas Casas devem dar depoimento não de vão glória ou de arte, senão de pobreza evangélica.

Finalmente, exortamos e rogamos a todos os Priores de nossa Ordem, pelas entranhas de Jesus Cristo, Deus e Salvador nosso, imolado por nós na lenha da Cruz, que todos se apliquem de todo coração, segundo as possibilidades de suas Casas, a fazer esmolas com grande generosidade, tendo em conta que quanto esbanjem ou imoderadamente poupem é furtá-lo aos pobres e às necessidades da Igreja. Assim, conservando este fim comum dos bens, imitemos aos primeiros cristãos que não consideravam como própria nenhuma coisa, senão que todas as tinham em comum. "

28 -A pobreza

"O monge elegeu seguir a Cristo pobre, para enriquecer-se com sua pobreza. Não se apoiando no terreno senão em Deus, tem seu tesouro no céu, onde tende seu coração. Portanto, sem considerar nada como próprio, está preparado a pôr gostosa e livremente em mãos de sua Prior todas as coisas que se lhe concederam, quantas vezes este quiser.

Os professos solenes nada têm em particular, fora das coisas que a Ordem lhes concede para o simples uso. Também renunciaram à faculdade de pedir, receber, dar ou alienar alguma coisa sem permissão. Ainda entre nós, também não podemos mudar ou receber algo sem licença.

Os professos de votos temporários e os doados, ainda que conservam a propriedade de seus bens e a capacidade de adquirir outros, não têm nada consigo, como também não os noviços. O Mestre ensine individualmente a seus alunos o desprendimento dos bens temporários e das comodidades, e o amor à pobreza.

Segundo Guigo, se a um monge algum amigo ou parente lhe envia roupa ou algo pelo estilo, não se lhe dá a ele, senão mais bem a outro, para que não pareça que o tem como próprio. Assim, pois, nenhuma pessoa da Ordem se atreva a reclamar o usufruto ou qualquer outro título de propriedade sobre os livros ou outra coisa adquirida pela Ordem obrigado a ele; mas se se lhe concede o uso, aceite-o com agradecimento, não como de coisa própria senão alheia. Ninguém tenha nunca dinheiro a seu arbítrio, nem o guarde em seu poder.

E porque o Filho do homem não teve onde reclinar sua cabeça, observem-se plenamente em nossas celas a singeleza e a pobreza.

Retiremos delas com perseverante empenho o supérfluo e o atraente, inclusive pedindo com agrado o parecer do Prior.

Não tenha nosso vestido nada de luxuoso ou supérfluo contrário à singeleza e pobreza religiosa. Pois em todas estas coisas, nossos Padres não se preocupavam senão de preservar-se do frio e cobrir a nudez, julgando que, certamente, aos cartuxos lhes corresponde a rusticidade em sua roupa e em todas as demais coisas que usam.

Seguindo seu espírito, tentemos, no entanto, que tanto a roupa como a cela de cada um estejam limpas e em boa ordem.

A não ser que estejamos de viagem ou enfermos, compomos a cama com monástica austeridade.

Os instrumentos de certo preço só se permitirão a quem, segundo o juízo do Prior, pareça necessário. Os instrumentos músicos não estão de acordo com nossa vocação, nem os jogos, sejam do gênero que sejam. No entanto, para aprender nosso canto podem admitir-se instrumentos que educam a voz ou a gravam.

Ficam totalmente excluídos de entre nós os instrumentos radiofônicos.

É tão grande a variedade das condições locais, que com frequência o que num lugar é necessário resulta supérfluo em outro, e assim não é possível estabelecer uma lei universal para todos.

Exortamos, pois, aos Priores que atendam benévolos a todas as necessidades reais de seus monges, quanto o permitam os recursos da Casa. Movidos pela caridade de Cristo, não permitam que se os possa repreender justamente em isto, nem que, por sua mesquinharia, vejam-se os monges induzidos ao vício de propriedade A pobreza será tanto mais grata a Deus, quanto mais voluntária, e o laudável não é carecer das comodidades do mundo, senão ter renunciado a elas. "

22 outubro 2010

27 -Os enfermos

"A doença ou a velhice nos sugerem um novo ato de fé no Pai, que por meio destas penalidades nos configura mais estritamente com Cristo. Sócios assim de modo especial à obra da Redenção, unimo-nos mais intimamente a todo o Corpo Místico.

O Prior mostre uma peculiar solicitação e misericórdia com os enfermos, os anciãos e os atribulados. E o mesmo se recomenda também a todos os encarregados do cuidado dos enfermos. Segundo as possibilidades da Casa, proporcione-se-lhes caritativamente quanto seja necessário e conveniente. Todos os serviços, ainda os mais particulares, que não possam eles fazer-se por si mesmos, se os prestarão os demais humildemente, sentindo-se feliz aquele a quem se lhe mande tal coisa. Os que sofrem alguma doença nervosa, particularmente gravosa na solidão, sejam ajudados tudo o possível, para que compreendam que podem dar glória a Deus esquecendo-se de si mesmos e entregando-se confiadamente à vontade daquele que é Pai.

No entanto, é preciso recordar aos enfermos, como diz São Bento, que cuidem de não contristar a seus enfermeiros pedindo coisas supérfluas ou impossíveis, ou quiçá murmurando. A recordação da vocação que abraçaram lhes fará ver que, como há diferença entre um monge são e um secular são, deve tê-la entre um monge enfermo e um secular enfermo. Não permita Deus que por motivo da doença se lhes estreite o espírito e resulte inútil a visita do Senhor.

A estes, pois, se os exorta a considerar os sofrimentos de Cristo, àqueles, sua misericórdia. Então, estes se sentirão animosos para suportar; aqueles, prontos para servir. Se uns e outros consideram que tudo é por Cristo, quer sendo servidos quer servindo, não existe arrogância dum lado nem negligência do outro; mas cada um espera do mesmo Senhor o prêmio do dever cumprido; uns padecendo, outros compadecendo-se.

Como pobres de Cristo, nos contentaremos com o médico ordinário da Casa ou, se o caso o pede, com algum especialista das cidades próximas. Se algum pai se vê obrigado a recorrer a dito especialista que não seja o médico ordinário, o Prior lhe pode permitir que vá a uma das cidades próximas designadas pelos Visitadores com o consentimento do Capítulo Geral ou do Reverendo Pai, com a condição que volte o mesmo dia. Igualmente, o Prior pode permitir que seja hospitalizado um monge, mas convém que seja informado o Reverendo Pai.

Nossos enfermos, dedicados à solidão, recebem os cuidados necessários na própria cela, quanto é possível. Não estamos obrigados a seguir as prescrições de alguns médicos que favorecem as saídas de Casa, ou que receitam remédios ou cuidados contrários a nossa vocação, pois só nós somos responsáveis ante Deus de nossos votos. Tem-se de evitar também abusar de medicinas com detrimento da perfeição e da mesma saúde corporal, e com encargo da Casa.

Em todas estas coisas, entreguemo-nos com docilidade de alma à vontade de Deus, e recordemos que a prova da doença nos prepara para o gozo eterno, sentindo com o salmista: Que alegria quando me disseram : vamos à casa do Senhor. "

26 -O Procurador

"O Prior põe à frente dos irmãos da Casa a um monge de entre os professos solenes como diligente Procurador; assim queremos que seja chamado. o qual, ainda que a exemplo de Marta, cujo ofício aceita, também ele necessariamente tem que se afanar e preocupar-se de muitas coisas, no entanto, não deve abandonar completamente ou tomar aversão ao silêncio e quietude da cela senão mais bem recorre sempre à cela, quanto se o permitem os negócios da Casa, como ao casaco do mais seguro e calmo porto, para acalmar -lendo, orando, meditando -os turbulentos movimentos de seu ânimo que nascem do cuidado ou administração das coisas exteriores; e para que possa guardar, no secreto de seu coração algo proveitoso que expor com unção e sabedoria aos irmãos a ele confiados.

O Procurador deve visitar em todo tempo aos monges enfermos que não assistem à igreja, mostrando-se com eles solícito e amável. Fora deste caso, não visita aos padres, nem entra em suas celas sem permissão, nem pode falar com eles fora da cela senão quando os encontre num colóquio concedido pelo Presidente; no entanto, pode mudar umas palavras à porta da cela. Mas cuide muito de não difundir notícias do mundo pela Casa, pois sua função própria é tentar que os monges possam consagrar-se à quietude contemplativa.

O Procurador deve velar solícito pelas obediências dos irmãos e pela saúde corporal destes, atendendo-os com toda caridade. O primeiro, deles exemplo, porque mais são estimulados com fatos que com palavras; gostosamente imitarão ao Procurador, se este imita a Cristo. Tente, sobretudo , não carregar aos irmãos com excessivo trabalho; e a fim de que possam gozar na cela do suficiente recolhimento, o tempo dedicado ao trabalho não passe normalmente de sete horas.

Seja cada irmão responsável de sua obediência, e, a sua vez, o Procurador apóie sua autoridade nos trabalhos que se lhe encomendem. Sobre eles deve conferir o irmão ao Procurador, e submeter-se a sua vontade; no entanto, quanto o permitam as coisas, o Procurador deixe fazer aos irmãos com a devida liberdade, para que cumpram melhor suas encomendas. E se quiser mudar algo em suas obediências, não o fará sem primeiro os consultar, ou ao menos os avisar.

O Procurador, como também os outros Oficiais da Casa, devem vigiar-se para não abusar de seu cargo e conceder-se dispensas ou coisas não necessárias, que não quereriam conceder aos demais.

O Procurador deve mostrar-se atencioso com os hóspedes, sair a recebê-los quando chegam, e visitá-los depois. Ausente o Prior, o Procurador pode deixar de ir ao refeitório para assistir aos hóspedes Mas não vírgula desordenada e indiferentemente com todos, senão somente com as pessoas às que não se lhes pode negar facilmente este atendimento; e isto, quantas menos vezes, melhor. Fora do Procurador, e do Vigário quando está ausente o Prior, nenhum monge assista à comida dos hóspedes.

O Procurador que deixa a tenta, deixa também toda preocupação e toda coisa supérflua, para seguir a Cristo nu no deserto. "

21 outubro 2010

23 –O Prior

"A eleição do Prior

Toda Casa da Ordem onde estão presentes ao menos seis professos capazes de eleger, podem eleger a seu Prior. Mas a eleição deve fazer-se dentro dos quarenta dias; decorrido esse tempo, proverá de novo Prior o Reverendo Pai ou o Capítulo Geral.

O ministério do Prior

O Prior, a exemplo de Cristo, está entre seus irmãos como quem serve; rege-os segundo o espírito do Evangelho e segundo a tradição da Ordem que ele mesmo recebeu. Se esforça por ser útil a todos com sua palavra e seu exemplo de vida. Será, em particular para os monges do claustro, dos quais procede, um modelo de quietude contemplativa, estabilidade, solidão e fidelidade às observâncias de sua vocação.

Nem seu posto nem seu vestido se diferenciam em nada dos demais por sua dignidade ou luxo, nem também não leva nenhum distintivo que o dê a conhecer como Prior.

O Prior, que é no mosteiro o pai comum de todos, deve mostrar a mesma solicitação pelos irmãos e pelos padres. Os visitará de vez em quando em suas celas e obediências. Se algum vai a sua cela, o acolherá com grande caridade, e sempre escutará com agrado a cada um. Será tal que seus monges, sobretudo nas provas possam recorrer a ele como ao regaço de um pai cheio de bondade e abrir-lhe, se o desejam, sua alma livre e espontaneamente. Não julgando com miras humanas, se esforçará com seus monges por estar à escuta do Espírito na busca comum da vontade de Deus, da que, pela missão que recebeu, é intérprete para seus irmãos.

O Prior não deve, para fazer-se querer, relaxar a disciplina regular, porque isto não é guardar as ovelhas, senão perdê-las. Pelo contrário, governe aos monges como a filhos de Deus, promovendo sua voluntária sujeição, para que na solidão se conformem mais plenamente a Cristo obediente.

Os monges, por sua vez, amem em Cristo e reverenciem a seu Prior, e tributem-lhe sempre humilde obediência. Confiem nele, que tomou o cuidado de suas almas no Senhor, abandonando toda preocupação naquele que se crê faz as vezes de Cristo. Não se tenham por sábios em sua própria estimação, fiados em seu próprio juízo, senão que, inclinando seu coração à verdade, escutem os conselhos de seu pai.

Aos mais jovens, quando começam a viver entre os professos solenes, aos conversos recém feitos seus votos solenes, e aos doados que já não estão sob a tutela do Mestre, não os deixe o Prior abandonados a si mesmos e ao arbítrio de sua própria vontade, pois a experiência ensina que estes anos são os mais perigosos para nossa vocação, e que deles depende todo o resto de nossa vida. Ajude-os como pai, e inclusive como irmão, dialogando com eles singelamente em particular. Quanto seja possível, evite o pôr aos monges nos cargos mal terminaram os estudos, sobretudo no de

Procurador.

Vele o Prior para que se tenha normalmente o Capítulo dos irmãos. Cuide, ademais, de que uma vez por semana se lhes explique a doutrina cristã ou os Estatutos. E como este é um dever seu grave, ponha sumo empenho em que os irmãos adquiram uma sólida formação e se lhes proporcionem livros adequados para isso.

Mostre um cuidado especial com os enfermos, tentados e afligidos, sabendo por experiência que dura pode resultar-nos as vezes a solidão.

Como os livros são o alimento perene de nossas almas, o Prior facilite-se gostosamente a seus monges. Convém que se nutram principalmente da Sagrada Escritura, dos Padres da Igreja e dos bons autores monásticos. Forneça-lhes também outros livros sólidos, cuidadosamente selecionados para utilidade de cada qual.

Pois na solidão nos dedicamos à leitura não para conhecer todas as novas opiniões, senão para alimentar a fé na paz e favorecer a oração. Também pode o Prior, se é preciso, proibir algum livro a seus monges.

O Prior, para tomar alguma decisão nas coisas de maior importância relacionadas com as obediências dos Oficiais, apóie-se neles depois de ter trocado opiniões e de comum acordo. Eles, por sua vez, submetam-se sempre a suas ordens com ânimo filial. Aprenda ele a conhecê-los com suas dificuldades, com ânimo paternal, ajude-os, defenda sua autoridade em presença de todos, e, se é necessário, corrigi-los com caridade. Proceda de tal modo que não só pareça interessar-se pela ordem externa, senão que, pessoalmente fiel ao Espírito, mostre a todos a caridade de Cristo Porque a paz e concórdia da Casa depende em grande parte de que os Oficiais estejam unidos com o Prior e de comum acordo.

O Prior não deve comer em sua Casa com os hóspedes desordenada e indiferentemente, senão somente com as pessoas às que não se lhes pode negar facilmente este atendimento, e ainda então, quantas menos vezes, melhor.

O Prior que por velhice ou doença não pode reger sua grei nem dar-lhe exemplo de vida regular, reconheça-o humildemente e, sem esperar ao Capítulo Geral, peça a misericórdia ao Reverendo Pai. Exortamos aos Definidores que não mantenham no cargo de Prior a pessoas gastadas pela velhice ou pouca saúde.

O Prior, cujo cargo requer não pouca abnegação, aplique-se a si mesmo aquelas palavras de Guigo: Não tens de empenhar-te em que teus filhos, a cujo serviço te pôs o Senhor, façam o que tu queres, senão o que lhes convém. Deves submeter-te ao seu bem e não submetê-los a tua vontade, porque te foram confiados, não para que te colocares acima deles, mas ao seu serviço. "
































22 -A vida comum

"Quando nas celas ou nas obediências praticamos a vida solitária, o coração se inflama e se alimenta com o fogo da divina caridade, que é vínculo de perfeição, e nos constitui membros de um mesmo corpo. Este amor mútuo que nos temos, podemos manifestá-lo prazenteiramente com palavras e obras, ou abnegando-nos por nossos irmãos, quando nos reunimos nas horas assinaladas pelos Estatutos.

A sagrada Liturgia é a parte mais digna da vida comum, como queira que fundamenta a máxima união entre nós, quando, diariamente unidos, de tal maneira participamos nela que podamos estar concordes em presença de Deus.

O Capítulo da Casa é um lugar particularmente digno; nele fomos recebidos um dia cada um como o mais humilde servidor de todos; nele reconhecemos ante nossos irmãos as faltas cometidas depois; ali escutamos a leitura sagrada, e ali também deliberamos sobre questões que afetam ao bem comum.

Em algumas Solenidades nos reunimos todos no Capítulo para ouvir o sermão pronunciado pelo Prior ou por outro a quem ele tenha encarregado.

Nos Domingos e Solenidades -excetuadas as Solenidades de Natal do Senhor, Páscoa e Pentecostes, e todas as que na Quaresma ocorrem entre semana -depois de Nona vamos ao

Capítulo para atender à leitura do Evangelho ou dos Estatutos. Cada duas semanas ou uma vez ao mês, segundo o costume das Casas, reconhecemos ali publicamente as faltas. Cada um pode confessar as faltas cometidas contra os irmãos, contra os Estatutos, ou também contra as obrigações gerais de nossa observância. E porque não se guarda a solidão do coração senão pela proteção do silêncio, quem o tenha quebrantado reconhecerá sempre sua falta, e sofrerá alguma penitência pública, segundo costume. Depois da acusação, o Prior poderá oportunamente fazer correções.

Os irmãos se reúnem os Domingos no Capítulo ou em outro lugar, a uma hora apropriada, e ali se lhes lêem e explicam os Estatutos, ou um pai encarregado pelo Prior os forma na doutrina cristã. Ali mesmo reconhecem suas culpas, a não ser que tenham assistido ao Capítulo juntamente com os padres.

A juízo do Prior, os monges se reúnem no Capítulo sempre que tenha que deliberar sobre um assunto, ou que o Prior peça o parecer da Comunidade.

Comemos juntos no refeitório os Domingos e Solenidades; nestes dias nos reunimos mais com frequência dando lugar às expansões da vida de família. O refeitório, ao que entramos depois de um Ofício na igreja, recorda-nos o Jantar que Cristo consagrou; abençoa as mesas o sacerdote que celebrou a Missa conventual; e enquanto se nos serve o alimento corporal, nutrimo-nos da leitura divina.

Aos padres se lhes concede uma recreação comum depois do Capítulo de Nona; aos irmãos, a juízo do Prior, em qualquer solenidade, para quem o queiram. Uma vez ao mês há um colóquio para todos os irmãos; este dia, a vontade do Prior, padres e irmãos podem ter uma recreação comum, à que também podem assistir os noviços e professos temporários.

Nas recreações recordemos o conselho do Apóstolo: Alegrai-vos, tende um mesmo sentir, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco. Como a recreação é uma reunião de Comunidade, evitemos ficar-nos aparte ou falar fora do lugar onde estão todos reunidos, a não ser umas poucas palavras.

Já que, como diz São Bruno, o ânimo pusilânime, cansado pela estreita disciplina e os afãs espirituais, muitas vezes se alivia e toma alento com a amenidade do deserto e a beleza do campo, os padres têm um espaciamiento (passeio) cada semana, excetuada a Semana Santa. Por sua vez, os irmãos têm um espaciamiento ao mês, a gosto de cada um, quem, no entanto, deverão tomar parte nele ao menos três ou quatro vezes ao ano. Neste espaciamiento, padres e irmãos, a juízo do Prior, podem passear juntos.

Segundo antigo costume da Ordem, uma vez ao ano se concede um grande espaciamiento, que padres e irmãos, noviços e jovens professos podem fazer juntos, se o Prior o vê oportuno. Nesse dia está permitido sair dos limites do espaciamiento aprovados pelo Capítulo Geral, e podemos levar um pouco de comida para tomar nele. Mas ainda neste caso se tem de guardar a frugalidade cartusiana, e comer longe dos estranhos. Ademais, o Prior pode conceder outro semelhante, mas sem que se vírgula nele.

Nossos espaciamientos sejam tais que favoreçam a união dos espíritos e seu saudável aproveitamento. Por isso, seguindo todos o mesmo caminho, passeiem juntos para que todos possam falar alternativamente uns com outros, a não ser que, por alguma causa razoável, pareça melhor formar duas ou três grupos. E se têm que atravessar necessariamente pelos povos vizinhos, se contentarão com passar singelamente e com toda modéstia, sem entrar nunca em casas de seculares. Não falem com os estranhos, nem lhes dêem nada. Também não comam nos passeios, nem bebam outra coisa que água natural das fontes que encontrem no caminho.

Estas recreações foram estabelecidas para fomentar o amor mútuo e dar um alívio à solidão. Evitemos a loquacidade e as vozes e risos descompostos; sejam nossas conversas religiosas, não vãs nem mundanas, evitando cuidadosamente toda sombra de detração ou murmuração. Quando não estejamos de acordo com outro, saibamos escutá-lo, tentando compreender sua mentalidade, a fim de que tudo sirva para estreitar mais o vínculo da caridade.

Três vezes ao ano, os padres fazem obras comuns, a vontade do Prior, que também poderá omiti-las. Entre Nona e Vésperas se faz o trabalho em comum, guardando silêncio. Estes trabalhos podem durar três dias. Além das ajudas que se prestem ao Sacristão, o Prior pode encarregar algum trabalho que alivie aos irmãos; e assim os padres se alegrarão de ter uma ocasião de participar nas tarefas dos irmãos. Na semana na que se fazem obras comuns, a qualquer pai lhe é lícito não assistir ao espaciamiento.

Uma vez ao mês, os padres que queiram podem, com a aprovação do Prior, dedicar o tempo do passeio a algum trabalho a modo de obras comuns, com licença para falar entre eles. "

20 outubro 2010

21 -A celebração cotidiana da Liturgia

"Depois de ter descrito a vida do monge à escuta de Deus na cela ou no trabalho, vamos tratar agora, com a ajuda do Senhor, da Comunidade. A graça do Espírito Santo congrega aos solitários para formar uma comunhão no amor, a imagem da Igreja que é uma e se estende por todas as partes.

Quando nosso Pai São Bruno penetrou no deserto com seis colegas, seguia as impressões dos antigos monges, consagrados totalmente ao silêncio e à pobreza de espírito. Com tudo, esta graça própria de nossos primeiros Padres consistiu em introduzir naquela vida a Liturgia quotidiana, que, conservando a força da instituição eremítica, associasse-a mais expressamente ao cântico de louvor do que o Sumo Sacerdote, Cristo, transmitiu a sua Igreja. Esta peculiar Liturgia a conservamos como mais conforme à vida contemplativa e solitária.

Ao modo da sinaxis dos antigos monges, em nossa Liturgia ocupam o lugar mais eminente as vigílias da noite, seguidas imediatamente de Laudes, a Eucaristia celebrada conventualmente, e também as Vésperas. Para estes ofícios nos reunimos na igreja.

Quando nos congregamos para a Eucaristia, em Cristo presente e orante se consuma a unidade da família cartusiana. Esta comemoração do sacrifício do Senhor reúne cada dia a todos os monges do claustro e aos monges leigos que o desejem.

Ademais, os sacerdotes na solidão celebram a Eucaristia, juntamente com a Igreja; então a humilde oblação de sua vida no deserto é assumida em Cristo para a glória de Deus Pai.

No entanto, nos dias que se ajustam mais à vida comunitária, os monges podem concelebrar, unidos num mesmo sacerdócio.

A oração noturna é aquela na que, perseverando nas sentinelas divinas, esperamos a volta do Senhor, para que, quando chame, abramos-lhe ao instante. As Vésperas se celebram ao tempo em que o dia declina e convida às almas ao sábado espiritual.

As demais Horas canônicas da Liturgia as recitamos, segundo costume, na cela. Os Domingos e Solenidades, Terça, Sexta e Nona as cantamos no coro.

A Liturgia celebrada no segredo da cela se adapta à vida solitária, que é liberdade do alma, de tal maneira que possa harmonizar o mais possível com a inclinação do coração, ainda quando seja sempre um ato de nossa vida comunitária. Ao toque de sino, orando todos ao mesmo tempo, obtêm como resultado que toda a Casa seja um louvor da glória de Deus.

Enquanto celebram o Ofício divino, os monges se fazem voz e coração da mesma Igreja, que por meio deles oferece a Deus Pai, em Cristo culto de adoração, louvor e súplica, e pede humildemente perdão pelos pecados. Cargo de suma importância, que desempenham os monges, certamente através de toda sua vida, mas mais expressa e publicamente por meio da sagrada Liturgia.

Sendo ocupação do monge meditar assiduamente as Sagradas Escrituras, até que se convertam em algo próprio à pessoa, quando se nos apresentam pela Igreja na Sagrada Liturgia, acolhemo-las como pão de Cristo.

A Liturgia conventual se canta sempre. Nosso canto gregoriano, o qual sabemos que fomenta a interioridade e a sobriedade do espírito, é parte tradicional e sólida do patrimônio da Ordem.

Os monges do claustro estão obrigados ao Ofício divino segundo o descrevem nossos livros litúrgicos. A participação dos monges leigos na Liturgia pode realizar-se de vários modos; em qualquer caso, participam na oração pública da Igreja.

Além do Ofício divino, nossos Padres nos transmitiram o Ofício da bem-aventurada Virgem Maria, cada uma de cujas Horas costuma preceder à Hora correspondente do Ofício divino. Com essas preces se celebra a perene novidade do mistério pelo qual a bem-aventurada Virgem engendra espiritualmente a Cristo em nossos corações.

Já que o Senhor nos chamou para que representemos ante Ele a toda criatura, é necessário que intercedamos por todos : por nossos irmãos, familiares e benfeitores, e por todos os vivos e defuntos.

Frequentemente celebramos a Liturgia da reconciliação, perpétua Páscoa do Senhor, pela que nos renova a nós, pecadores, que procuramos seu rosto. Efetivamente, nossa vida espiritual depende da assídua diligente e pessoal prática do Sacramento da Penitência.

Porque nossa vocação consiste em estar sem interrupção em vela cerca de Deus, toda nossa vida se converte numa espécie de Liturgia que em certos tempos se faz mais patente, já seja que ofereçamos orações em nome e segundo os ritos da Igreja, ou bem que sigamos os impulsos do próprio coração. Mas não nos dividimos por esta diversidade, já que sempre exerce em nós sua sacerdócio o mesmo Senhor, orando no mesmo Espírito ao Pai. "

20 -A formação dos irmãos

"Os irmãos principiantes estão sujeitos à direção do Mestre de noviços, que sempre será um Pai ordenado de sacerdote. Que seja, ademais, varão sobressalente em religiosidade, quietude, silêncio, juízo e prudência, que arda em autêntica caridade e irradie amor de nossa vocação, que compreenda também a diversidade de espíritos, e tenha uma mentalidade aberta às necessidades dos jovens. Sob sua tutela permanecem os conversos até sua Profissão solene, e os doados até sua Doação perpétua ou até que comecem o regime no que se renova a Doação cada três anos.

O Mestre instrua a seus alunos a fim de que a vida de oração, enraizada na fé e na caridade, saquem-na da genuína fonte da palavra de Deus, e a adaptem às obrigações próprias de seu estado, como são a solidão, o silêncio, a liturgia e o trabalho. Promove, também, o entendimento e o amor de nossos Estatutos bem como das tradições da Ordem Se preocupará de que o amor dos alunos a Cristo e à Igreja vá em aumento de dia em dia. Uma vez por semana atende à formação em comum de seus discípulos, tendo uma conferência de ao menos meia hora de duração, na que os instrua, sobretudo, a respeito do espírito e as observâncias de nosso propósito. Aos noviços se lhes concede mais tempo de cela, para que possam aplicar-se melhor a sua formação espiritual.

Visitando aos calouros e conversando singelamente com eles em particular o Mestre observa suas disposições espirituais e lhes dá conselhos acomodados a suas necessidades especiais, para que cada um possa atingir a perfeição de sua vocação.

O Procurador, que por razão de seu cargo trata diariamente com os irmãos, os moverá mais eficazmente à virtude e à oração com o exemplo de virtude e de vida de oração do que ele mesmo pratique; porque a ciência divina se comunica melhor vivendo-a que explicando-a.

Cuide-se já desde o tempo de formação de não carregar aos irmãos com excessivos exercícios comuns ou observâncias alheias a nossa Ordem; vigie-se mais bem para do que sejam iniciados na vida de oração e no verdadeiro espírito monástico.

Ao Prior e ao Mestre de noviços pertence o julgar, segundo sua prudência e discrição, da idoneidade dos candidatos ou dos irmãos jovens para seguir o gênero de vida da Ordem. Para que um seja cartuxo não só de nome, senão real e verdadeiramente, não basta querer; requer-se ademais, junto com o amor à solidão e a nossa vida, certa aptidão especial de alma e corpo. Receber a algum ou retê-lo longo tempo, quando consta que lhe faltam as dotes necessárias, é uma falsa e quase cruel compaixão. Esteja muito em guarda o Mestre para que o novicio se decida em sua vocação com plena liberdade, e não o compila em modo algum para que faça a Doação ou a Profissão.

Quatro vezes ao ano dê conta, ante o Prior e o Conselho, do estado dos noviços doados e dos noviços conversos; responda também às perguntas que se lhe façam sobre os demais membros do noviciado.

Os irmãos principiantes tenham livre acesso ao Mestre de noviços e possam tratar sempre com ele, mas espontaneamente e sem coação alguma. Exortamo-los a que exponham com singeleza e confiança suas dificuldades ao Mestre, aceitando-o como eleito pela divina Providência para dirigi-los e ajudá-los. Igualmente, todos os irmãos podem ir livremente ao Prior, quem, como pai comum, os receberá benignamente e os visitará algumas vezes em suas celas, mostrando o mesmo interesse por todos, sem acepção de pessoas.

Os irmãos mais antigos, em especial os Encarregados de obediência, contribuem eficazmente à formação dos mais jovens com quem trabalham, se lhes dão exemplo de observância regular e praticam as virtudes e a oração no viver de cada dia. No entanto, abstenham-se ou pouco menos de ter conversas, ainda sobre temas espirituais, pois não devem misturar-se em coisas relativas à consciência alheia.

Para que a vida espiritual dos irmãos se sustente numa sólida base, se lhes dará aos jovens irmãos, desde o começo de sua vida monástica, uma formação doutrinal, à qual se reservará cada dia verdadeiro tempo. Tal formação tende a que o irmão se inicie nas riquezas latentes na Palavra de Deus e lhe permita adquirir uma percepção pessoal dos mistérios de nossa fé, ao mesmo tempo que vai aprendendo a sacar fruto da meditação em livros sólidos. O cargo de dar dita instrução corresponde ao Prior, ao Mestre e ao Procurador, quem farão de comum acordo, segundo as prescrições do Capítulo Geral.

A formação espiritual e doutrinal dos irmãos tem de ir-se completando durante toda a vida. Na consecução deste fim ajudam ao Procurador os padres designados pelo Prior, dando cada domingo uma conferência aos irmãos. Desde Todos os Santos até Páscoa, nesta conferência se explicam os Estatutos, e se lêem os capítulos que é costume ler todos os anos na Comunidade dos irmãos; esta conferência, pela que são também instruídos sobre as observâncias da Ordem, se encomendará preferencialmente ao Procurador. Desde Páscoa até a festa de Todos os Santos, tal formação versará sobre doutrina cristã, vida espiritual, e ademais sobre Sagrada Escritura e Liturgia, segundo as normas que estabelecerá o Prior; este ensino seja profundo e, ao mesmo tempo, adaptada à capacidade dos irmãos. Estas duas classes de instrução, se parece oportuno, podem-se distribuir de outro modo, com a condição que não se diminua o tempo dedicado a cada uma.

Assim, os irmãos aprenderão a sublime ciência de Jesus Cristo, se se dispõem a recebê-la com uma vida de oração silenciosa, oculta com Cristo em Deus. Esta é a vida eterna, que conheçamos ao Pai e a seu enviado, Jesus Cristo. "

19 outubro 2010

19 -A Doação

"Na Casa de Deus há muitas mansões : entre nós há monges do claustro e conversos, há também doados que, tendo abandonado igualmente o mundo, procuraram a solidão da Cartuxa a fim de consagrar toda sua vida a Deus, aplicando-se à oração e ao trabalho ao amparo da clausura. Pois não poucas vezes os homens mais virtuosos preferiram viver e morrer no estado de doados, para desfrutar, agregados aos filhos de São Bruno, de sua santa herança.

Findo laudavelmente o noviciado, o novicio doado é admitido pelo Prior a fazer a Doação temporária, depois da votação dos professos de votos solenes, e assim mesmo dos doados perpétuos.

O dia da Doação temporária ou perpétua, o futuro doado, tendo feito ao menos quatro dias de retiro, lerá sua Doação, escrita em língua vernácula, ante toda a Comunidade, antes de Vésperas, sob esta forma e com estas palavras: Eu, irmão N., por amor de nosso Senhor Jesus Cristo e pela salvação de minha alma, obrigo-me a servir a Deus fielmente como Donato, observando a obediência e castidade, sem nada ter como próprio, para a edificação da Igreja.

Por isso eu me entrego… a esta Casa, em compromisso recíproco, para a servir em todo o tempo, submetendo-me à disciplina da Ordem, segundo as normas dos Estatutos.

Depois da expressão “me entrego”, adicione-se “por três anos”, se a Doação é temporária; e se se prorroga, indique-se o tempo de prorrogação; mas se a Doação é perpétua, diga-se “perpetuamente”.

Ainda que o doado viva em pobreza, conserva a propriedade e a disposição de seus bens. Mas antes do tempo da Doação perpétua, ninguém aliene nem permita que seja alienado nenhum de seus bens, ainda que o queira o mesmo doado.

Desde este momento, o doado fica constituído em pessoa da Ordem e incorporado a ela, podendo os Superiores, em caso de necessidade, transladá-lo a qualquer de nossas Casas. No entanto, não pode ser expulsado da Ordem, a não ser que faltasse gravemente a alguma de suas obrigações, em cujo caso poderá o Prior, com o consentimento de seu Conselho, anular sua Doação.

Mas quando se anula um contrato de Doação, ambas as partes, a saber, o Prior em nome da Comunidade, e o mesmo doado, assinem um instrumento que dê fé desta rescisão.

Terminado o triênio, ao Prior corresponde, depois da votação da Comunidade, incluídos os Doados perpétuos, admitir ao doado à renovação temporária por dois anos. O tempo da Doação temporária pode prorrogá-lo o Prior, mas não mais de um ano.

Decorrido o tempo de provação, ao Prior corresponde, depois da votação da Comunidade, incluídos os Doados perpétuos, admitir ao irmão ou à Doação perpétua, ou ao regime no que a Doação se renova cada três anos; renovações para as quais não se repete a votação. Para a Doação perpétua se requer ademais o consentimento do Reverendo Pai.

Os doados são monges dotados de costumes próprios quanto ao Ofício divino e às demais observâncias. Estes costumes se podem adaptar às necessidades de cada um, de maneira que lhe permitam viver, segundo seu caminho pessoal, nossa vocação de união com Deus na solidão e o silêncio. Esta ordenada liberdade não a tomarão como uma concessão à sensualidade, senão em serviço da caridade. Entregam-se, por tanto, ao serviço do Senhor de diferente maneira que os conversos, mas sua oferenda a Deus não é menos verdadeira, nem menos ardente seu desejo de santidade. Prestam, assim mesmo, uma ajuda muito útil à Casa, encarregando-se as vezes de trabalhos que aos conversos lhes dificultariam a guarda de suas observâncias. "