"A formação dos noviços se tem de encomendar a um Mestre que se distinga por sua prudência, caridade e observância regular, que esteja dotado da devida maturidade e experiência das coisas da Ordem que senta um gosto especial à quietude e à cela que irradie amor por nossa vocação, que entenda a diversidade de espíritos e tenha uma mentalidade aberta às necessidades dos jovens. Ao ocupar-se com todo coração da perfeição espiritual de seus alunos, saiba também escusar os defeitos alheios.
O Mestre mostre-se solícito e vigilante com respeito à recepção dos noviços, antepondo o mérito ao número. Para que um seja cartuxo não de puro nome, senão real e verdadeiramente, não basta querer; requer-se ademais, junto com o amor à solidão e a nossa vida, certa aptidão especial de alma e corpo, por onde se conheça a vocação divina. Tudo isto o tenha em conta o Mestre, a quem principalmente pertence o examinar e provar aos calouros. Não esqueça que certos defeitos, que num princípio pareciam quiçá de pouca monta, frequentemente costumam crescer e arraigasse mais depois da Profissão. É assunto grave o recusar ou despedir a alguém, e só se tem de decidir depois de madura deliberação. No entanto, receber a algum ou retê-lo longo tempo, quando consta que lhe faltam as dotes necessárias, é uma falsa e quase cruel compaixão. Esteja muito em guarda o Mestre para que o novicio se decida em sua vocação com plena liberdade, e não o compila em modo algum para que faça a Profissão.
O Mestre visitará ao novicio em momentos oportunos e ensinar-lhe-á as observâncias da Ordem que um novicio não deve ignorar.
Cuidará, ademais, especialmente de que o novicio estude com interesse os Estatutos da Ordem. Ao Mestre toca também formar os hábitos do novicio, dirigi-lo em seus exercícios espirituais e pôr remédios oportunos a suas tentações. Esteja atencioso a que, de dia em dia, aumente o amor dos alunos para Cristo e a Igreja. Ainda que, a exemplo de nosso Pai São Bruno, deve ter entranhas de mãe, é preciso também que mostre uma energia de pai, para que a formação do calouro seja monástica e varonil. Deixe, sobretudo, que os noviços experimentem a vida solitária na cela e sua austeridade, e ensine-os a prestar-se mutuamente auxílio espiritual com caridade sincera e singela.
É muito proveitoso, certamente, que o novicio se dedique ao estudo e ao trabalho manual; mas não basta que o solitário esteja ocupado em sua cela e persevere laudavelmente assim até a morte; precisa, ademais, outra coisa: o espírito de oração e prece. Faltando o viver com Cristo e a íntima união do alma com Deus, de pouco servirá a fidelidade nas cerimônias e a mesma observância regular, e nossa vida se poderia justamente comparar a um corpo sem alma.
Portanto, nada tenha mais no coração o Mestre do que inculcar este espírito e acrescentá-lo com discrição, para que os noviços depois de sua Profissão se acerquem cada dia mais a Deus e consigam o fim de sua vocação.
Cuide muito o Mestre de ir sempre às fontes de toda vida cristã, aos documentos da tradição monástica e à primitiva inspiração de nossa Ordem. Exponha compridamente o espírito de nosso Pai São Bruno e vele pelas sãs tradições, recopiladas principalmente por Guigo e guardadas fielmente desde o nascimento da Ordem.
A partir do segundo ano, os noviços começarão seus estudos, que serão prudentemente orientados para uma formação ao mesmo tempo monástica e sacerdotal, segundo as normas da Ratio Studiorum. Os monges não sejam promovidos ao sacerdócio até que estejam dotados de suficiente maturidade humana e espiritual, a fim de que possam participar mais plenamente deste dom de Deus."
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