"Os irmãos principiantes estão sujeitos à direção do Mestre de noviços, que sempre será um Pai ordenado de sacerdote. Que seja, ademais, varão sobressalente em religiosidade, quietude, silêncio, juízo e prudência, que arda em autêntica caridade e irradie amor de nossa vocação, que compreenda também a diversidade de espíritos, e tenha uma mentalidade aberta às necessidades dos jovens. Sob sua tutela permanecem os conversos até sua Profissão solene, e os doados até sua Doação perpétua ou até que comecem o regime no que se renova a Doação cada três anos.
O Mestre instrua a seus alunos a fim de que a vida de oração, enraizada na fé e na caridade, saquem-na da genuína fonte da palavra de Deus, e a adaptem às obrigações próprias de seu estado, como são a solidão, o silêncio, a liturgia e o trabalho. Promove, também, o entendimento e o amor de nossos Estatutos bem como das tradições da Ordem Se preocupará de que o amor dos alunos a Cristo e à Igreja vá em aumento de dia em dia. Uma vez por semana atende à formação em comum de seus discípulos, tendo uma conferência de ao menos meia hora de duração, na que os instrua, sobretudo, a respeito do espírito e as observâncias de nosso propósito. Aos noviços se lhes concede mais tempo de cela, para que possam aplicar-se melhor a sua formação espiritual.
Visitando aos calouros e conversando singelamente com eles em particular o Mestre observa suas disposições espirituais e lhes dá conselhos acomodados a suas necessidades especiais, para que cada um possa atingir a perfeição de sua vocação.
O Procurador, que por razão de seu cargo trata diariamente com os irmãos, os moverá mais eficazmente à virtude e à oração com o exemplo de virtude e de vida de oração do que ele mesmo pratique; porque a ciência divina se comunica melhor vivendo-a que explicando-a.
Cuide-se já desde o tempo de formação de não carregar aos irmãos com excessivos exercícios comuns ou observâncias alheias a nossa Ordem; vigie-se mais bem para do que sejam iniciados na vida de oração e no verdadeiro espírito monástico.
Ao Prior e ao Mestre de noviços pertence o julgar, segundo sua prudência e discrição, da idoneidade dos candidatos ou dos irmãos jovens para seguir o gênero de vida da Ordem. Para que um seja cartuxo não só de nome, senão real e verdadeiramente, não basta querer; requer-se ademais, junto com o amor à solidão e a nossa vida, certa aptidão especial de alma e corpo. Receber a algum ou retê-lo longo tempo, quando consta que lhe faltam as dotes necessárias, é uma falsa e quase cruel compaixão. Esteja muito em guarda o Mestre para que o novicio se decida em sua vocação com plena liberdade, e não o compila em modo algum para que faça a Doação ou a Profissão.
Quatro vezes ao ano dê conta, ante o Prior e o Conselho, do estado dos noviços doados e dos noviços conversos; responda também às perguntas que se lhe façam sobre os demais membros do noviciado.
Os irmãos principiantes tenham livre acesso ao Mestre de noviços e possam tratar sempre com ele, mas espontaneamente e sem coação alguma. Exortamo-los a que exponham com singeleza e confiança suas dificuldades ao Mestre, aceitando-o como eleito pela divina Providência para dirigi-los e ajudá-los. Igualmente, todos os irmãos podem ir livremente ao Prior, quem, como pai comum, os receberá benignamente e os visitará algumas vezes em suas celas, mostrando o mesmo interesse por todos, sem acepção de pessoas.
Os irmãos mais antigos, em especial os Encarregados de obediência, contribuem eficazmente à formação dos mais jovens com quem trabalham, se lhes dão exemplo de observância regular e praticam as virtudes e a oração no viver de cada dia. No entanto, abstenham-se ou pouco menos de ter conversas, ainda sobre temas espirituais, pois não devem misturar-se em coisas relativas à consciência alheia.
Para que a vida espiritual dos irmãos se sustente numa sólida base, se lhes dará aos jovens irmãos, desde o começo de sua vida monástica, uma formação doutrinal, à qual se reservará cada dia verdadeiro tempo. Tal formação tende a que o irmão se inicie nas riquezas latentes na Palavra de Deus e lhe permita adquirir uma percepção pessoal dos mistérios de nossa fé, ao mesmo tempo que vai aprendendo a sacar fruto da meditação em livros sólidos. O cargo de dar dita instrução corresponde ao Prior, ao Mestre e ao Procurador, quem farão de comum acordo, segundo as prescrições do Capítulo Geral.
A formação espiritual e doutrinal dos irmãos tem de ir-se completando durante toda a vida. Na consecução deste fim ajudam ao Procurador os padres designados pelo Prior, dando cada domingo uma conferência aos irmãos. Desde Todos os Santos até Páscoa, nesta conferência se explicam os Estatutos, e se lêem os capítulos que é costume ler todos os anos na Comunidade dos irmãos; esta conferência, pela que são também instruídos sobre as observâncias da Ordem, se encomendará preferencialmente ao Procurador. Desde Páscoa até a festa de Todos os Santos, tal formação versará sobre doutrina cristã, vida espiritual, e ademais sobre Sagrada Escritura e Liturgia, segundo as normas que estabelecerá o Prior; este ensino seja profundo e, ao mesmo tempo, adaptada à capacidade dos irmãos. Estas duas classes de instrução, se parece oportuno, podem-se distribuir de outro modo, com a condição que não se diminua o tempo dedicado a cada uma.
Assim, os irmãos aprenderão a sublime ciência de Jesus Cristo, se se dispõem a recebê-la com uma vida de oração silenciosa, oculta com Cristo em Deus. Esta é a vida eterna, que conheçamos ao Pai e a seu enviado, Jesus Cristo. "
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