"O monge do claustro, sujeito à lei divina do trabalho em sua própria vocação, foge da ociosidade que, segundo os antigos, é inimiga do alma. Por isso, abraça com humildade e prontidão todos os trabalhos que necessariamente traz consigo uma vida pobre e solitária, a condição, no entanto, de que tudo se ordene ao exercício da divina contemplação, à que está totalmente entregado. Além dos diversos trabalhos manuais, faz parte de sua tarefa diária o cumprimento das obrigações de seu estado, principalmente as que se referem ao culto divino e ao estudo das ciências sagradas.
Em primeiro lugar, para não perder inutilmente na cela o tempo da vida religiosa, o monge do claustro deve dedicar-se com interesse e discrição a estudos apropriados, não pela vaidade de saber ou de editar livros, senão porque uma leitura sabiamente ordenada facilita à alma uma instrução mais sólida e põe a base para a contemplação das coisas celestiais. Erram, pois, os que julgam que, descuidando ao princípio o estudo da palavra de Deus ou abandonando-o depois, podem elevar-se facilmente à união íntima com Deus. Assim, fixando-nos mais na substância do conteúdo que no brilho aparente da expressão estudemos os mistérios divinos com esse desejo de conhecer que nasce do amor e o inflama.
Com o trabalho de mãos, o monge se exercita na humildade e reduz todo seu corpo a servidão, para que sua alma adquira uma maior estabilidade. De onde, nos tempos estabelecidos, é lícito dedicar-se a trabalhos manuais verdadeiramente úteis, porque não está bem desperdiçar em bagatelas e trabalhos inúteis um tempo precioso concedido a cada um para glorificar a Deus. No entanto, não fica excluída deste tempo à utilidade da leitura e a oração; mais ainda, sempre é aconselhável, enquanto se trabalha, recorrer pelo menos às breves orações chamadas jaculatórias. Também pode às vezes suceder que o peso do trabalho sirva de âncora que sujeite o vaivém dos pensamentos ajudando com isso ao coração a permanecer fixo em Deus constantemente, sem fadiga mental.
O trabalho é um serviço mediante o qual nos unimos com Cristo, que não veio ser servido senão a servir. São de louvar certamente os que se as arrumam por si sós para cuidar do mobiliário, das ferramentas e das demais coisas usadas na cela, aliviando no possível o trabalho dos irmãos. Pelo demais todos têm de ter a cela ordenada e limpa.
Sempre pode o Prior impor a um pai algum trabalho ou serviço para bem da Comunidade, e ele o aceita com agrado e com alegria de coração, pois no dia de sua Profissão pediu ser recebido como o mais humilde servidor de todos. Quando se encomenda um trabalho a um monge do claustro, seja sempre de tal natureza que lhe permita conservar sua liberdade interior enquanto trabalha, sem preocupar-se do ganho ou de quando tem de terminar. Porque convém que o solitário, atendendo não tanto à obra como ao fim tentado, possa manter seu coração sempre em vela Mas para que o monge permaneça calmo e são na solidão muitas vezes será conveniente que goze de certa liberdade na ordenação de seu trabalho.
Normalmente não se tem de chamar aos padres a trabalhar fora de suas celas, sobretudo nas obediências dos irmãos. E em caso que se destinem alguns padres a fazer um trabalho em comum, eles poderão falar entre si do que requeira tal trabalho, mas não com os que chegam.
Toda nossa atividade nasça sempre da fonte interior, a exemplo de Cristo, que sempre atua com o Pai, de maneira que o mesmo Pai faça as obras permanecendo nele. Assim seguiremos a Cristo em sua vida humilde e oculta de Nazaré, tanto quando oramos a Deus no secreto, como quando trabalhamos por obediência em sua presença. "
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