"A nossa principal aplicação e propósito consistem em nos dedicar ao silêncio e à solidão da cela. Esta é a terra santa e o lugar onde o Senhor e o seu servo conversam frequentemente como dois amigos. É nela que muitas vezes a alma fiel se une ao Verbo de Deus, a esposa convive com o Esposo, as coisas da terra se ligam às do Céu, as humanas às divinas. Mas é muito o trajeto a percorrer, por caminhos áridos e secos, antes de chegar à fonte das águas e à terra de promissão.
Por isso convém que o que vive retirado em sua cela vele diligente e solícito para não se tentar nem aceitar nenhuma saída dela, fora das geralmente estabelecidas; mais bem considere a cela tão necessária para sua saúde e vida, como o água para os peixes e o aprisco para as ovelhas. Se se acostuma a sair dela com frequência e por leves causas, cedo se lhe fará odiosa; pois, como diz São Agostinho: Para os amigos deste mundo não há nada mais trabalhoso que não trabalhar. Pelo contrário, quanto mais tempo guarde a cela, tanto mais a gosto viverá nela, se sabe ocupar-se de uma maneira ordenada e proveitosa na leitura, escritura, salmodia, oração, meditação, contemplação e trabalho. Enquanto, vá acostumando-se à calma escuta do coração, que deixe entrar a Deus por todas suas portas e sendas. Assim, com a ajuda divina, evitará os perigos que frequentemente espreitam ao solitário : seguir na cela o caminho mais fácil e merecer ser contado entre os mornos.
Os frutos do silêncio os conhece quem o experimentou. Ainda que ao princípio nos resulte no duro calar, gradualmente, se somos fiéis, nosso mesmo silêncio irá criando em nós uma atração para um silêncio cada vez maior. Para consegui-lo, está estabelecido que não falemos uns com outros sem permissão do Presidente.
O primeiro ato de caridade para com nossos irmãos é respeitar sua solidão. Se se nos permite falar de algum assunto, seja nossa conversa tão breve quanto seja possível.
Os que não são de nossa Ordem nem aspiram a entrar nela, não se hospedem em nossas celas.
Os monges do claustro dedicam todos os anos oito dias a uma guarda maior da quietude da cela e do recolhimento. O que se acostumou fazer normalmente por motivo do aniversário da Profissão.
Deus nos trouxe à solidão para falar-nos ao coração. Seja, pois, nosso coração como um altar vivo, do que suba continuamente ante o Senhor uma oração pura, pela qual devem ser impregnados todos nossos atos. "
2 comentários:
Tenho seguido esta 'série' e demorado cá a ler até aqui - que maravilha e que pequenina me sinto...
Ontem foi dia de S. Bruno, fundador da O. dos Cartuxos. Lê o Post de Frei Filipe em: http://retalhosdavidadeumpadre.blogspot.com/
Abraço em Cristo e Maria.
Tal como o excelente artigo do Joaquim (amigo comum) também este tem continuação;)
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