17 fevereiro 2009

O horror do vazio




Depois de em Outubro ter morto o casamento gay no parlamento, José Sócrates, secretário-geral do Partido Socialista, assume-se como porta-estandarte de uma parada de costumes onde quer arregimentar todo o partido.
Almeida Santos, o presidente do PS, coloca-se ao seu lado e propõe que se discuta ao mesmo tempo a eutanásia. Duas propostas que em comum têm a ausência de vida. A união desejada por Sócrates, por muitas voltas que se lhe dê, é biologicamente estéril. A eutanásia preconizada por Almeida Santos é uma proposta de morte. No meio das ideias dos mais altos responsáveis do Partido Socialista fica o vazio absoluto, fica "a morte do sentido de tudo" dos Niilistas de Nitezsche. A discussão entre uma unidade matrimonial que não contempla a continuidade da vida e uma prática de morte, é um enunciar de vários nadas descritos entre um casamento amputado da sua consequência natural e o fim opcional da vida legalmente encomendado. Sócrates e Santos não querem discutir meios de cuidar da vida (que era o que se impunha nesta crise). Propõem a ausência de vida num lado e processos de acabar com ela noutro. Assustador, este Mundo politicamente correcto, mas vazio de existência, que o presidente e o secretário-geral do Partido Socialista querem pôr à consideração de Portugal. Um sombrio universo em que se destrói a identidade específica do único mecanismo na sociedade organizada que protege a procriação, e se institui a legalidade da destruição da vida. O resultado das duas dinâmicas, um "casamento" nunca reprodutivo e o facilitismo da morte-na-hora, é o fim absoluto que começa por negar a possibilidade de existência e acaba recusando a continuação da existência. Que soturno pesadelo este com que Almeida Santos e José Sócrates sonham onde não se nasce e se legisla para morrer. Já escrevi nesta coluna que a ampliação do casamento às uniões homossexuais é um conceito que se vai anulando à medida que se discute porque cai nas suas incongruências e paradoxos. O casamento é o mais milenar dos institutos, concebido e defendido em todas as sociedades para ter os dois géneros da espécie em presença (até Francisco Louçã na sua bucólica metáfora congressional falou do "casal" de coelhinhos como a entidade capaz de se reproduzir). E saiu-lhe isso (contrariando a retórica partidária) porque é um facto insofismável que o casamento é o mecanismo continuador das sociedades e só pode ser encarado como tal com a presença dos dois géneros da espécie. Sem isso não faz sentido. Tudo o mais pode ser devidamente contratualizado para dar todos os garantismos necessários e justos a outros tipos de uniões que não podem ser um "casamento" porque não são o "acasalamento" tão apropriadamente descrito por Louçã. E claro que há ainda o gritante oportunismo político destas opções pelo "liberalismo moral" como lhe chamou Medina Carreira no seu Dever da Verdade. São, como ele disse, a escapatória tradicional quando se constata o "fracasso político-económico" do regime. O regime que Sócrates e Almeida Santos protagonizam chegou a essa fase. Discutem a morte e a ausência da vida por serem incapazes de cuidar dos vivos.

Artigo retirado http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?opiniao=M%E1rio%20Crespo

5 comentários:

Yelva disse...

não entendo...

digo
o coração não entende

essas confusões que o ser humano faz...

estas que trazes (com coragem) e outras...

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se apenas pudesse morrer

qdo se chega ao fim

sem antecipações ou retardos pelos mais diferentes motivos


considero uma dádiva

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para quê? para que chamar de casamento o que não é casamento? e aos casamentos que deveriam ser todos verdadeiros em coisas menores do que são

muitas vezes tão desfigurados que não mereceriam um nome tão especial por ser fonte aliança de vida


...


Bjs
Fica com Deus

Ecclesiae Dei disse...

Que triste discussão... não deveria nem existir.

Tem um selo para ti no blog.
Abraço

Lavrador disse...

A quem honra honra!
Mário Crespo mostra que não pertence à ralé actual que (des)governa o país.
Não há muitos dias vi um programa que passa em França, em horário nobre, "On n'est pas couché", apresentado por Laurent Ruquier, em que o escritor e jornalista Eric Zemmour falando na emissão para a qual foi convidado de honra o secretário de estado encarregado das relações com o Parlamento, Roger Karoutchi (assumido homossexual) disse, e bem: « Hoje, no mundo politico mediático, para ser moderno, é necessário ser mulher ou então homeossexual. »
veja aqui
Por estas e outras razões não me surpreende desejarem os senhores que nos governam, ou desgovernam, instituir essas aberrações! Nós não temos que ser modernos, temos que ser fiéis aos princípios morais, validos para todas as sociedades. Hora o homossexualismo é amoral e é por essa razão que nossa consciência o rejeita.

Anónimo disse...

Veja aqui. Como eu apreceei ler as suas palavras, mas cuidado que quando se pensa assim somos atacados, somos antiquados, e ja nao percebemos o que e ser moderno.

Paulo disse...

Realmente Yelva não dá para perceber o mundo em que vivemos e o futuro que "queremos" para os nossos filhos.

Nem mais Ecclesiae dei.

Amigo Lavrador é o mundo que temos e que aos poucos vai mudando. Em algumas coisas para melhor mas, em muitas outras coisas para pior.

Amigo anónimo (seja quem for) para mim a modernidade está e estará sempre nos valores morais da sociedade e não nas modas que se vão implementando com o cognome de "boas". Antigamente os pais mesmo doentes ficavam em casa, agora já se pensa em eutanasia quando os cuidados paleativos tiram a dor, um cavalo de batalha dos pró-eutanásia. A homossexualidade também já existe há muito tempo mas, nos dias que correm, para mim, uma familia será sempre um homem e uma mulher e não duas pessoas do mesmo sexo juntas e não me refiro apenas em questões sexuais. Se isto é ser antiquado pois que seja, não vou em modas.