03 junho 2015

Cartuxos (um oásis no meio do deserto) VIII

“A Quaresma é a Cartuxa ou a Cartuxa é uma Quaresma continuada.”

Uma frase muito simples dita pelo Prior Antão Lopez da Cartuxa de Évora, na emissão do passado dia 2 de março à Agência Ecclesia.

Para além da restante entrevista, toda ela fruta fresca, esta frase ficou-me, qual sino, a badalar na minha mente, porque lá no fundo da minha alma (re)lembrei-me que foi logo após a Quaresma de 2007 que os descobri (ou Ele a mim).
Quando no inicio desse ano me propus a fazer a experiência de participar numa Romaria Quaresmal, por sinal a 1ª nesta ilha e não sabia ao que ia nem sabia o que iria encontrar. Tão pouco sabia que hoje, alguns anos depois, mais do que participar, vivo-as de alma e coração, ano após ano.
Lembro-me que durante essa 1ª romaria e no fim do segundo dia de caminhada, questione-me do que estaria a fazer ali, uma vez que quase sem forças para dar mais alguns passos, o desanimo (do cansaço) apoderou-se de mim porque senti que nada tinha sentido até então. Naquele momento, no meio do nada e apesar de ter tido o apoio de dois irmãos para chegar, pelo menos ao fim daquele dia, estava preparado para no final do mesmo deixar aquela fantochada e voltar ao aconchego do lar e da família.
Ao chegar ao pé da Igreja onde iríamos ter a Celebração Eucarística, antes de nos recolhermos do frio da noite, aconteceu-me algo, ainda que humanamente explicável, ainda hoje me faz pensar, ainda hoje me leva ali, quando me sinto quase sem forças para dar mais alguns passos, mas por força desse acontecimento, a fé e esperança enraizou-se em mim e vai florescendo gradualmente ainda que, em alguns momentos da vida, algumas folhas caem, alguns galhos secam por essa fé e esperança, por vezes ainda ser leve.
Já passava das 20:00 e o dia já entardecia a olhos vistos quando chegámos à igreja e naquele local e naquele momento, vi uma pessoa que ali estava a aguardar por nós. Uma mulher, por sinal a minha, que quando me viu esboçou um pequeno sorriso, no entanto, não era ela a sorrir-me. Não era um sorriso própria dela, disso tenho a certeza. Quando vi aquele sorriso, senti um calor abrasador, não no corpo, mas sim na alma. Aquele sorriso foi o apoio que precisava receber da Sua e nossa mãe Maria Santíssima, para continuar, não só naquela 1º romaria como também...até que Deus queira. Foi como a dizer-me que o que estava a fazer era tudo menos uma fantochada e qual Maria numa passagem bíblica, eu e os demais irmãos, tínhamos escolhido a melhor parte, aquela que nunca nos será tirada.
Em romaria apenas existe silencio, oração e convívio fraterno. Como é bom e salutar esta tripolaridade durante alguns dias. Como seria bom se fosse mais algum tempo, talvez 15 dias, um mês, um ano...toda a vida. Foi com essa premissa (silêncio, oração e convívio) que após o terminus da referida romaria, procurei na internet “movimentos religiosos” com essas características e qual não foi o meu espanto, que os primeiros foram os cartuxos, e mais do que terem sido os primeiros, desde as primeiras leituras sobre o seu verdadeiro papel no seio da igreja, senti logo uma enorme empatia que, não só se tem prolongado no tempo, como também amadurecendo as minhas ideias, sentimentos e emoções.
Hoje ao ouvir o irmão Antão Lopez dizer que “A Quaresma é a Cartuxa ou a Cartuxa é uma Quaresma continuada” fiquei um pouco arrepiado porque, as romarias em que participo ocorrem na Quaresma e...como seria bom se fossem por mais tempo, talvez 15 dias, um mês, um ano...toda a vida.


6 de março de 2015

Sem comentários: