08 setembro 2010

Carta a uma filha de Maria de Nazaré


Deus escreve direito por linhas tortas” diz o povo desde longa data e com muita razão, aliás, salvo melhor opinião, todos os ditados criados e ainda hoje em uso, têm um fundamento lógico e com nexo, e não foram criados ao acaso ou numa altura em que o seu criador estava inspirado.
Esta pequena introdução irmã, vem na sequência do artigo anterior (homem de Deus). Estava eu a ver os meus emails quando reparei que tinha um de ti. Abri, como costume, e li com calma e ponderação aquilo que me dizias.
Assim, a dada altura, dizes-me que desde há algum tempo apelidaste-me de “homem de oração” e que o mesmo é um nadinha mais que o anterior, ou seja, que para ser um “homem de oração” tem que primeiramente ser um “homem de Deus”.
Realmente foi uma afirmação arrebatadora, bombástica até mas, ao contrário da do outro artigo, esta não mexeu comigo da mesma maneira. Aparentemente, nada senti, senão a constatação da afirmação que, a meu ver, tem lógica e fundamento. Na verdade, para sermos homens de Oração, temos que ser antes de tudo mais, homens de Deus.
Como disse, aparentemente nada senti, no entanto, foi nessa aparente falta de alguma sensação que arrebatasse o meu coração, que fiquei a pensar estes dias.
Hoje e após alguma meditação/introspecção constatei que esta tua afirmação é que uma fiel devota de Maria, já que foi na tua simplicidade e humildade que me chamaste tal coisa. Só alguém que segue-O ao lado de Maria diria, tal como todas as suas aparições ao longo dos tempos em que apenas pede que Orem. Só mesmo quem tem convicção e fé na oração, dar-me-ia um apelido tão simples e belo mas, em simultâneo, tão poderoso como a oração o é, tão simples como Maria o foi ao anjo Gabriel e tão silencioso mas fecundo como a oração deve ser.
Eu, minha irmã, sem querer ser repetitivo, sou um pecador ainda a caminho de ser homem de Deus. Oro, é certo e é na Oração que me identifico com Deus, mais do que na acção, no entanto, tantas são as vezes que oro sem saber orar. Inúmeras são as vezes que conto as contas do terço mas o meu pensamento está longe d`Ele. Imensas são as vezes que nem o Coroa de Nossa Senhora rezo e quando rezo, nem sempre sinto-me convicto nas palavras que me banham a mente. Converso muitas vezes com ela, como de filho para mãe mas, será isso orar? Sinto-me amparado por ela porque, quando lhe peço algo, raras são as vezes que a sua intercepção não é atendida e, se não é, é porque Nosso Senhor deve achar que não é chegada a altura de atender a tal pedido mas, com tantas falhas na minha “vocação” de oração, serei um homem de Oração?
Tens razão quando dizes que pensavas que no outro blog iria continuar a escrever orações como a 1ª oração e “desiludi-te”, porque tem sido muito amiúde os meus escritos por lá.
Agora, após estas toscas palavras, sinto que, aparentemente quase nada senti, no entanto, sem querer com o que vou dizer a seguir, vangloriar-me ou algo assim pecaminoso, sinto que é assim que os filhos da Virgem Maria devem ser, isto é, na humildade humanamente possível, não se ficaram pelos elogios, não se sentirem num “altar” quando são ditas coisas positivas a seu respeito, ainda que com alguma verdade inserida.
Se calhar, mesmo nas orações ditas e não sentidas, Nossa Senhora soube aproveitar uma mera vogal ou uma simples consoante e tornou-a perante Deus uma oração digna d`Ele e, com esta aparente falta de sensação, ela voltou a colocar-me no caminho certo em direcção a Deus, no caminho da humildade, sinceridade e seguindo Cristo como ela segui-O, sem me sentir mais que os outros, aliás, tendo como lema próprio “um irmão como os demais”, a sensação de euforia que senti no anterior artigo, ainda que possa ter sido, em parte, uma Graça, um mimo para um homem de Deus, também se calhar fiquei um pouco presunçoso de mais e com essa atitude pequei.
Como disse no inicio “Deus escreve direito por linhas tortas” e com este comentário que me fizeste, Maria, através das tuas palavras fez-me descer do “altar” em que me sentia e voltei a ser apenas e tão só uma tentativa de homem de oração, como aqueles que, no silêncio das suas clausuras, separados de todos, oram por eles, sem que muitos “deles” o saibam ou sonhem.

2 comentários:

A Capela disse...

Paulo,

Somos uns 'felizardos' por termos Maria por nossa Mãe. Jesus pensou em tudo e sempre em nosso favor e no Seu imenso Amor. No Post abaixo ia dizer precisamente isso, por ter-nos ensinado a rezar. Que bem que Ele nos conhece e/ou as nossas fraquezas, e assim, ensina-nos a pedir :"não nos deixeis cair em tentação". Depois ainda nos dá a Mãe, a quem tens tanta devoção. O teu blog pareceu-me agora, quando entrei, ser uma homenagem a Ela - todo em azul e a fazer-nos sentir sob o Seu manto, da mesma cor.

Avé Maria!

Abraço em Cristo e Maria.

Paulo disse...

Minha Amiga e irmâ Malu, obrigado pelas tuas palavras, sempre cheias de tanto para dar e quanto ao azul, sempre gostei desta tonalidade, seja a cor do manto de NS ou branco como a sua pureza. Boa semana