16 dezembro 2010

O ROSARIO - 9 e última parte

O Rosário dos princípios e do futuro

A história da sua origem mostra claramente isto: antes de estar ao uso da comunidade, o Rosário era uma oração estritamente pessoal.
Se hoje cristãos, e mais particularmente os jovens, são alérgicos ao terço comunitário, não é talvez porque os adultos não o rezam com bastante silêncio.
Ou então, porque estes últimos, em contradição com a sua idade real, falharam em maturidade e abertura na sua maneira de o rezar?
Ou enfim, porque talvez ninguém nunca lhe dissesse que uma boa recitação do Rosário exige conhecimento acrescentado do Evangelho e de fidelidade a Cristo?
Não esqueçamos: três jovens estão na origem do Rosário!
Adolfo de Esser tinha apenas 23 anos quando o rezou pela primeira vez à sua maneira, em 1396.
A duquesa Margarida de Baviera tinha 24 anos quando Adolfo lhe entregou os seus dois escritos cerca do ano de 1400.
E Domingos de Prússia contava 25 anos quando acrescentou, para seu uso pessoal, o «bilhete-socorro» ao terço de Adolfo, em 1409.
O que nasceu de uma necessidade pessoal urgente, numa época muito perturbada, contém o essencial:
O nome «Rosário», tomado do Amor cortês, mostra bem que «Deus é Amor» (1 Jo. 4, 8) e reclama o nosso amor.
Fé cristã é mais do que ideologia de intelectual. Ela é essencialmente e concretamente: troca de amor, partido de Deus, o Mistério em Pessoa do mundo, e atingindo cada membro da humanidade. Deveria acontecer-me um dia ser escandalizado pelo lado demasiado humano da Sua Igreja (à qual Ele me reenvia sem cessar), então é na Sagrada Escritura que eu devo procurar o Seu Rosto e o Seu Coração. Para lá chegar, é indispensável que eu comece pelo princípio e que eu procure - se é preciso, com a ajuda dos melhores comentários - uma inteligência mais profunda e mais ampla de cada passagem do Evangelho.
Mas em última instância lá onde nenhum comentário pode substituir-me, eu devo, na fé, tomar a sério a sua Pessoa e o seu Coração e realizar no quotidiano da minha vida os seus desejos e ensinamentos. Eu consegui-Io-ei somente, se renuncio a ler o Evangelho apenas e começo a meditá-Io em «Comunhão dos Santos», e mais particularmente com os olhos e o Coração de Maria. A vocação particular e a maior alegria da Santíssima Virgem é conduzir-nos a «um melhor conhecimento de Jesus».
Tomemos sem escrúpulos à liberdade de dizer - na recitação privada do terço e durante um certo tempo - a Ave na sua fórmula breve como uma saudação pessoal à Mãe de Deus, com a qual passamos em revista toda a história da nossa salvação por Jesus.
Mas seja qual for a maneira de rezar o terço - se ele é rezado «honestamente» - contém uma abundância de graças para as dificuldades presentes e as necessidades futuras .
O Papa Paulo VI na Encíclica «Marialis Cultus» propôs as «fórmulas» como um dos meios de renovar a recitação do Terço.
O sistema mais fácil é dizer uma fórmula em cada dezena de Ave-Marias. Dizem-se pois cinco fórmulas, dez vezes cada uma, por Terço. De um dia para o outro pode-se pois seguir a lista das fórmulas ou escolher dentre elas.

É o terço cartusiano. É talvez o terço do futuro.


NOTA POSTERIOR: Como o fato de reter na memória ditas cláusulas pode ser um inconivente para algumas pessoas, é bom lembrar que não há nenhum problema de poder-se ajustar aos Mistérios comuns do Terço - que todos sabemos de cor - utilizando como cláusula única, para cada dezena de Ave-Marias, um dos mistérios da vida de Cristo e nossa Senhora. Enquanto assim se faz, podemos permanecer unidos a Maria num sereno gozo (nos mistérios gozosos), ou com um ânimo de compaixão (nos dolorosos), ou com uma alegria compartida com Jesus, com Ela (nos gloriosos), ou, por fim, sob os raios da suave luz divina (nos luminosos).
Ainda que no tempo do Terço de Domingos de Tréveris não existisse a segunda parte da Ave-Maria, tampouco há problema para que nós, depois do “Amén” da cláusula, seguido este de um instante de silêncio meditativo, possamos acrescentar essa segunda parte da atual Ave-Maria: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Como assinalava o Pe. Jean Lafrance no seu livro O Terço, esta fórmula tem grande semelhança com a da Oração de Jesus de nossos irmãos orientais.
A recitação do Rosário pode propiciar assim uma atitude muito simples, que faz que, ao mesmo tempo que pronunciamos com os lábios as Ave-Marias, o fundo de nosso coração fica unido ao Senhor. Deus pode chamar-nos desse modo a rezar esta oração vocal mantendo o coração numa simples atenção amorosa para com Ele, em Jesus, com Maria.
Esta atitude simples e indefinível, como dizia o famoso monge trapista, Eugene Boylan, nos coloca perante uma verdadeira oração contemplativa, da qual o Terço converte-se em suporte. Eis suas palavras: “De fato, parece que para certas almas, uma destas ocupações (o Terço ou o uso de jaculatórias, p.e.) para as faculdades inferiores é uma condição necessária para o exercício da oração de fé. Por esta oração é que uma alma que parece estar absorvida na oração vocal e na meditação, é realmente elevada a este grau de oração (contemplativa). (“A dificuldade de orar”. Pág.66. Ed. Áster. Lisboa, 1957).

Este livro poderá ser baixar na integra directamente daqui

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