13 outubro 2010

11 -Os monges leigos

"Desde suas origens, nossa Ordem, como um corpo cujos membros não têm todos a mesma função, compreende padres e irmãos. Tanto uns como outros são monges, e participam da mesma vocação, ainda que de maneira diversa. Graças a esta diversidade, a família cartusiana pode cumprir mais perfeitamente sua missão na Igreja.

Os monges do claustro, de quem tratamos até agora, vivem no retiro de suas celas e são sacerdotes ou chamados a sê-lo. Os monges leigos, dos quais vamos tratar agora com a ajuda de Deus consagram sua vida ao serviço do Senhor não só pela solidão senão também por uma maior dedicação ao trabalho manual. Aos primeiros irmãos, chamados conversos, se lhes uniram no correr do tempo outra classe de irmãos, os doados, que, sem fazer votos, oferecem-se por amor de Cristo à Ordem mediante um contrato recíproco. Já que levam vida monástica, chamamo-los também monges.

Bem como os primeiros Padres de nossa Ordem seguiram as impressões daqueles antigos monges que levaram uma vida de solidão e pobreza de espírito, igualmente nossos primeiros irmãos,Andrés e Guerín, decidiram-se a abraçar uma vocação parecida. É necessário, pois, que os conversos e doados não saiam dos termos do ermo senão rara vez e obrigados pela necessidade cuidando diligentemente de manter-se alheios aos rumores do século.

Finalmente, suas celas de tal maneira estejam isoladas que, entrando em seu interior, fechada a porta e deixando afora todos os cuidados e preocupações, possam orar ao Pai em escondido repouso.

Os irmãos, imitando a vida escondida de Jesus em Nazaré, enquanto realizam os trabalhos diários da Casa, louvam ao Senhor em suas obras, consagrando o mundo à glória do Criador e ordenando as ocupações naturais ao serviço da vida contemplativa; mas nas horas consagradas à oração solitária, e quando assistem aos Ofícios divinos, dedicam-se a Deus por inteiro. Assim, pois, os lugares onde trabalham e vivem devem estar acondicionados de tal sorte que facilitem o recolhimento e, ainda providos de tudo o necessário e útil, deem a impressão de ser verdadeira mansão de Deus, não um edifício profano.

Unidos no amor do Senhor, na oração, no zelo pela solidão e no ministério do trabalho, os irmãos vivem juntos sob a direcção do Procurador. Mostrem-se, pois, verdadeiros discípulos de Cristo, não tanto de palavra quanto de obra, fomentem a caridade fraterna, tendo uns mesmos sentimentos, suportando-se mutuamente e perdoando-se se algum tem queixa contra outro, a fim de ser um só coração e uma só alma.

Dentro de seu próprio marco de solidão, os irmãos trabalham para providenciar às necessidades materiais da Casa, que lhes estão especialmente confiadas. Assim permitem aos monges do claustro consagrar-se mais livremente ao silêncio da cela.

Padres e irmãos, discípulos daquele que não veio ser servido senão a servir manifestam de forma diversa as riquezas de nossa vida, consagrada totalmente a Deus na solidão.

Estas duas formas de vida, na unidade de um mesmo corpo, têm graças diferentes, mas complementares a uma da outra e com mútua comunicação de bens espirituais. Tal harmonia permite ao carisma confiado pelo Espírito Santo a nosso Pai São Bruno atingir sua plenitude.

Entendam os padres que pelas sagradas Ordens, com as que foram marcados, receberam não tanto uma dignidade como um serviço. Ademais, o sacerdócio ministerial e o sacerdócio batismal dos leigos estão relacionados entre si, já que ambos participam do único sacerdócio de Cristo. Que cada qual, pois, correndo pelo caminho reto para a única meta de nossa vocação, persevere no estado ao que foi chamado.

O Prior há-de ser para todos os seus filhos, monges do claustro e leigos, um signo vivo do amor do Pai celestial, unindo-os em Cristo de tal maneira que formem uma família e que, segundo a expressão de Guigo, cada uma de nossas Casas seja realmente, uma igreja cartusiana.

A qual tem sua raiz e fundamento na celebração do Sacrifício Eucarístico, que é signo eficaz de unidade. É também o centro ecume de nossa vida, e ademais viático espiritual de nosso Êxodo, por onde na solidão retornamos por Cristo ao Pai. Assim mesmo, em todo o curso da Liturgia, Cristo como nosso Sacerdote ora por nós, e como Cabeça nossa ora em nós.

E como o caminho mais seguro para ir a Deus é seguir de perto as impressões de nossos Fundadores, os irmãos devem propor-se como modelos aos primeiros conversos da Grande Cartuxa, que, sem contar ainda com uma regra escrita, deram forma e espírito a seu gênero de vida.

Sua recordação inundava de gozo o coração de São Bruno, e o movia a escrever: De vocês, amaríssimos irmãos leigos, digo : Minha alma glorifica ao Senhor ao ver a grandeza de sua misericórdia sobre vocês. Alegro-me também de que, ainda sem ser letrados, Deus todo-poderoso grava com seu dedo em vossos corações não só o amor, senão também o conhecimento de sua santa lei. Com vossas obras, efetivamente, demonstrais o que amais e conheceis. Porque praticais com todo o cuidado e zelo possíveis a verdadeira obediência, que é o cumprimento da vontade de Deus e a clave e o selo de toda vida espiritual. Obediência que não existe nunca sem muita humildade e grande paciência, e que sempre vai acompanhada do casto amor do Senhor e da verdadeira caridade. O qual põe de manifesto que recolheis sabiamente o fruto muito suave e vivificador da Escritura divina. Permanecei, pois, irmãos meus, no estado ao que chegastes."

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