21 outubro 2010

22 -A vida comum

"Quando nas celas ou nas obediências praticamos a vida solitária, o coração se inflama e se alimenta com o fogo da divina caridade, que é vínculo de perfeição, e nos constitui membros de um mesmo corpo. Este amor mútuo que nos temos, podemos manifestá-lo prazenteiramente com palavras e obras, ou abnegando-nos por nossos irmãos, quando nos reunimos nas horas assinaladas pelos Estatutos.

A sagrada Liturgia é a parte mais digna da vida comum, como queira que fundamenta a máxima união entre nós, quando, diariamente unidos, de tal maneira participamos nela que podamos estar concordes em presença de Deus.

O Capítulo da Casa é um lugar particularmente digno; nele fomos recebidos um dia cada um como o mais humilde servidor de todos; nele reconhecemos ante nossos irmãos as faltas cometidas depois; ali escutamos a leitura sagrada, e ali também deliberamos sobre questões que afetam ao bem comum.

Em algumas Solenidades nos reunimos todos no Capítulo para ouvir o sermão pronunciado pelo Prior ou por outro a quem ele tenha encarregado.

Nos Domingos e Solenidades -excetuadas as Solenidades de Natal do Senhor, Páscoa e Pentecostes, e todas as que na Quaresma ocorrem entre semana -depois de Nona vamos ao

Capítulo para atender à leitura do Evangelho ou dos Estatutos. Cada duas semanas ou uma vez ao mês, segundo o costume das Casas, reconhecemos ali publicamente as faltas. Cada um pode confessar as faltas cometidas contra os irmãos, contra os Estatutos, ou também contra as obrigações gerais de nossa observância. E porque não se guarda a solidão do coração senão pela proteção do silêncio, quem o tenha quebrantado reconhecerá sempre sua falta, e sofrerá alguma penitência pública, segundo costume. Depois da acusação, o Prior poderá oportunamente fazer correções.

Os irmãos se reúnem os Domingos no Capítulo ou em outro lugar, a uma hora apropriada, e ali se lhes lêem e explicam os Estatutos, ou um pai encarregado pelo Prior os forma na doutrina cristã. Ali mesmo reconhecem suas culpas, a não ser que tenham assistido ao Capítulo juntamente com os padres.

A juízo do Prior, os monges se reúnem no Capítulo sempre que tenha que deliberar sobre um assunto, ou que o Prior peça o parecer da Comunidade.

Comemos juntos no refeitório os Domingos e Solenidades; nestes dias nos reunimos mais com frequência dando lugar às expansões da vida de família. O refeitório, ao que entramos depois de um Ofício na igreja, recorda-nos o Jantar que Cristo consagrou; abençoa as mesas o sacerdote que celebrou a Missa conventual; e enquanto se nos serve o alimento corporal, nutrimo-nos da leitura divina.

Aos padres se lhes concede uma recreação comum depois do Capítulo de Nona; aos irmãos, a juízo do Prior, em qualquer solenidade, para quem o queiram. Uma vez ao mês há um colóquio para todos os irmãos; este dia, a vontade do Prior, padres e irmãos podem ter uma recreação comum, à que também podem assistir os noviços e professos temporários.

Nas recreações recordemos o conselho do Apóstolo: Alegrai-vos, tende um mesmo sentir, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco. Como a recreação é uma reunião de Comunidade, evitemos ficar-nos aparte ou falar fora do lugar onde estão todos reunidos, a não ser umas poucas palavras.

Já que, como diz São Bruno, o ânimo pusilânime, cansado pela estreita disciplina e os afãs espirituais, muitas vezes se alivia e toma alento com a amenidade do deserto e a beleza do campo, os padres têm um espaciamiento (passeio) cada semana, excetuada a Semana Santa. Por sua vez, os irmãos têm um espaciamiento ao mês, a gosto de cada um, quem, no entanto, deverão tomar parte nele ao menos três ou quatro vezes ao ano. Neste espaciamiento, padres e irmãos, a juízo do Prior, podem passear juntos.

Segundo antigo costume da Ordem, uma vez ao ano se concede um grande espaciamiento, que padres e irmãos, noviços e jovens professos podem fazer juntos, se o Prior o vê oportuno. Nesse dia está permitido sair dos limites do espaciamiento aprovados pelo Capítulo Geral, e podemos levar um pouco de comida para tomar nele. Mas ainda neste caso se tem de guardar a frugalidade cartusiana, e comer longe dos estranhos. Ademais, o Prior pode conceder outro semelhante, mas sem que se vírgula nele.

Nossos espaciamientos sejam tais que favoreçam a união dos espíritos e seu saudável aproveitamento. Por isso, seguindo todos o mesmo caminho, passeiem juntos para que todos possam falar alternativamente uns com outros, a não ser que, por alguma causa razoável, pareça melhor formar duas ou três grupos. E se têm que atravessar necessariamente pelos povos vizinhos, se contentarão com passar singelamente e com toda modéstia, sem entrar nunca em casas de seculares. Não falem com os estranhos, nem lhes dêem nada. Também não comam nos passeios, nem bebam outra coisa que água natural das fontes que encontrem no caminho.

Estas recreações foram estabelecidas para fomentar o amor mútuo e dar um alívio à solidão. Evitemos a loquacidade e as vozes e risos descompostos; sejam nossas conversas religiosas, não vãs nem mundanas, evitando cuidadosamente toda sombra de detração ou murmuração. Quando não estejamos de acordo com outro, saibamos escutá-lo, tentando compreender sua mentalidade, a fim de que tudo sirva para estreitar mais o vínculo da caridade.

Três vezes ao ano, os padres fazem obras comuns, a vontade do Prior, que também poderá omiti-las. Entre Nona e Vésperas se faz o trabalho em comum, guardando silêncio. Estes trabalhos podem durar três dias. Além das ajudas que se prestem ao Sacristão, o Prior pode encarregar algum trabalho que alivie aos irmãos; e assim os padres se alegrarão de ter uma ocasião de participar nas tarefas dos irmãos. Na semana na que se fazem obras comuns, a qualquer pai lhe é lícito não assistir ao espaciamiento.

Uma vez ao mês, os padres que queiram podem, com a aprovação do Prior, dedicar o tempo do passeio a algum trabalho a modo de obras comuns, com licença para falar entre eles. "

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